JMJ. Bispo coordenador "não sabia nem tinha que saber" do custo do altar-palco

por Lusa

O bispo coordenador da Jornada Mundial da Juventude "não sabia nem tinha que saber" do custo do altar-palco projetado para o evento, sublinhou que o Presidente da República também não sabia e recusou interpretar como "passa-culpas" declarações de Moedas.

Em conferência de imprensa na sede da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que organiza o evento agendado para agosto deste ano, o bispo auxiliar de Lisboa e coordenador geral do Comité Organizador Local (COL), Américo Aguiar, disse que "não sabia nem tinha que saber" que o custo do altar-palco é superior a quatro milhões de euros.

A afirmação surgiu já depois de ter afirmado que haverá uma reunião com os técnicos da autarquia de Lisboa e da Sociedade de Rrabilitação Urbana (SRU), na qual também participará a Mota-Engil, a quem foi entregue a obra por ajuste direto, para rever todas as parcelas do projeto e perceber onde é possível cortar, tendo sublinhado que até à data do evento "tudo pode ser feito de maneira diferente".

Sublinhando que há um circuito para a adjudicação da obra que é externo à Fundação e à igreja, Américo Aguiar disse não se sentir "na obrigação de saber" o valor.

"Eu não sabia, o senhor Presidente da República não sabia e não é verdade que o senhor Presidente da República soubesse. O que é que nós sabíamos? Sabíamos o global", disse o bispo auxiliar, precisando desconhecer os valores de cada elemento que compõe a obra, que não estão na "atenção direta" da igreja, uma vez que são responsabilidade da Câmara Municipal da Lisboa (CML).

Américo Aguiar disse que "no mínimo" é "obrigação" da igreja sentar-se à mesa com os técnicos para avaliar o projeto "para que os custos da estrutura não sejam aqueles que são", explicando que a fundação não tem qualquer responsabilidade de acompanhamento da empreitada.

No entanto, afirmou que "hoje faria diferente". Até ao fecho dos requisitos para a realização da obra, referiu o bispo, a igreja "não sentiu" que fosse sua "responsabilidade acompanhar o caderno de encargos, os concursos, a adjudicação", porque isso "era uma responsabilidade da SRU".

"Cometer erros novos é humano, repetir erros é burrice. Naquilo que nos diz respeito, temos que ter procedimentos diferentes para evitar que aconteçam coisas deste género. Agiremos em conformidade, acompanhando mais de perto, pedindo para acompanhar mais de perto aquilo que sejam assuntos relacionados com os requisitos que nós tenhamos apresentado", disse o responsável.

A revisão de requisitos e projetos é extensível a outros elementos, como o palco previsto para o parque Eduardo VII, sublinhando que é indiferente a forma do palco, o importante é que deem resposta aos requisitos da igreja.

Acrescentou que a opção por uma estrutura permanente em vez de uma estrutura provisória, no altar-palco do Parque Tejo, significa materiais diferentes com custos diferentes.

"Estou convencido que algumas coisas desses requisitos não são essenciais", disse o bispo auxiliar de Lisboa, sublinhando que nesta matéria "a igreja não faz imposições, faz sugestões", recusando que os custos sejam o resultado direto do caderno de encargos apresentado pela Fundação JMJ à autarquia de Lisboa.

Ainda assim, recusou interpretar as declarações de Carlos Moedas, presidente da CML, que colocou nos requisitos da igreja o ónus dos custos do altar-palco, como um "passa-culpas".

"Não leio nas declarações do presidente da CML qualquer passa-culpas", disse o coordenador da JMJ, que recusou a perda de qualquer respaldo institucional, da parte do Presidente da República ou das autarquias que acolhem o evento depois da polémica com o altar.

"Pelo contrário, como em todas as famílias as dificuldades aproximam-nos e unem-nos. Desde que aterrámos [vindos do Panamá], todos os intervenientes, o senhor Presidente da República, o senhor primeiro-ministro, se manifestaram solidários naquilo que é uma responsabilidade de todos", disse.

A obra de construção do altar-palco onde o Papa Francisco vai celebrar a missa final vai custar 4,2 milhões de euros à Câmara de Lisboa, numa empreitada atribuída por ajuste direto.

Segundo a informação disponibilizada no Portal Base da Contratação pública, "a construção foi adjudicada por 4,24 milhões de euros (mais IVA)", somando-se a esse valor "1,06 milhões de euros para as fundações indiretas da cobertura".

A Câmara de Lisboa justificou na quarta-feira o investimento no altar-palco com as necessidades do evento e as características do terreno, sublinhando que a estrutura poderá receber 2.000 pessoas, metade dos quais bispos, e continuará depois a ser utilizada.

Na terça-feira, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, referiu que sabia que a construção do altar-palco iria ficar muito cara, acrescentando que será realizada com as especificações indicadas pela Igreja Católica.

Na quarta-feira, a Fundação JMJ comprometeu-se a divulgar, ao longo do projeto, "os custos e os investimentos" do "acontecimento inédito para o país" que "são da sua responsabilidade".

A JMJ é o maior encontro de jovens católicos de todo o mundo com o Papa, que acontece a cada dois ou três anos, entre julho e agosto e que em 2023 se realiza em Lisboa.

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