Jornal de Macau anuncia fecho devido a "pressões e riscos crescentes"

O jornal `online` e publicação mensal impressa All About Macau anunciou hoje que vai encerrar devido a "pressões crescentes", falta de recursos e por processos judiciais no território semi-autonómo chinês contra três dos seus jornalistas.

Lusa /

"Confrontada com recursos cada vez mais escassos, pressão externa crescente e jornalistas envolvidos em processos judiciais, a equipa tem cada vez mais dificuldade em manter os seus padrões", explicou, indicando que este mês sairá a última publicação mensal impressa e a partir de 20 de dezembro é colocado um ponto final no `site` e na atividade nas redes sociais.

Numa publicação na rede social Facebook, o All About Macau lembrou que "desde outubro do ano passado" que "certos eventos oficiais têm restringido a participação dos jornalistas na sua cobertura", e que já em abril deste ano a "publicação foi novamente impedida de cobrir a Assembleia Legislativa", com três dos seus jornalistas a "enfrentarem acusações de crimes relacionados com este incidente", podendo "ser sujeitos a um processo criminal", acrescentou o `media` do território administrado por Portugal até 1999.

"Embora nos separemos por agora, exortamos sinceramente os leitores a continuarem a salvaguardar a sociedade civil através da ação, promovendo o pluralismo local e o discurso independente, e expressando opiniões sobre questões críticas", pode ler-se na mesma publicação.

Duas jornalistas do All About Macau foram detidas a 17 de abril pela polícia quando tentavam entrar no salão da Assembleia Legislativa para assistir à apresentação do programa político na área da Administração e Justiça para este ano, por "perturbação do funcionamento de órgãos da Região Administrativa Especial de Macau".

A Polícia de Segurança Pública remeteu no mesmo dia o caso para o Ministério Público (MP).

No final de maio, o secretário para a Segurança de Macau, Wong Sio Chak, comentou o caso, afirmando que os jornalistas "não são exceção" ao dever de cumprir a lei.

O presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, José Miguel Encarnação, disse à Lusa que o MP devia ter "ponderação na avaliação dos factos, por forma a que não haja consequências de maior".

A coordenadora para a Ásia do Comité para a Proteção dos Jornalistas, Beh Lih Yi, disse à Lusa que "as autoridades devem retirar quaisquer potenciais acusações contra as repórteres do All About Macau".

Também em declarações à Lusa, a Sociedade de Jornalistas e Profissionais da Comunicação Europeus na Ásia (JOCPA) afirmou que Portugal deveria ter feito "um gesto discreto ou uma expressão de preocupação" face à detenção destas jornalistas.

"Consideramos o silêncio de Portugal preocupante, dados os seus profundos laços históricos e culturais com Macau", lamentou o presidente da JOCPA, Josep Solano.

Macau, que esteve sob administração portuguesa durante mais de 400 anos, passou em 1999 para a administração chinesa, sob um acordo que previa que a região deveria manter os direitos e liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de imprensa, durante os primeiros 50 anos.

Tópicos
PUB