Juncker reconhece pecados da troika em Portugal, Irlanda e Grécia

por Carlos Santos Neves, RTP
“Temos de aprender as lições do passado e não repetir os mesmos erros”, afirmou o presidente da Comissão Europeia diante do Comité Económico e Social Ints Kalnins, Reuters

Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, as instituições que formam a troika, cometeram pecados “contra a dignidade” de portugueses, irlandeses e gregos, o que impõe uma revisão do modelo dos resgates financeiros na Europa. O mea culpa é do sucessor de Durão Barroso à frente do Executivo comunitário. Jean-Claude Juncker admitiu na última noite que é preciso “tirar lições”.

Numa altura em que o programa de ajustamento grego volta a ser o epicentro de um abalo geopolítico europeu, Jean-Claude Juncker adota um tom de contrição. Para reconhecer que em Portugal, na Grécia e na República da Irlanda, países intervencionados com pacotes de resgate financeiro, a troika “pecou contra a dignidade dos cidadãos”.
“Pecámos contra a dignidade dos cidadãos na Grécia, Portugal e muitas vezes na Irlanda, também”, afirmou o presidente da Comissão Europeia, na noite de quarta-feira, diante do Comité Económico e Social.Jean-Claude Juncker não hesitou em reconhecer que falta legitimidade democrática à troika, sem ir ao ponto de defender a exclusão das três entidades.


Juncker ressalvou mesmo que esta sua posição pode soar “estúpida”, dado que no passado recente presidiu ele mesmo ao Eurogrupo – o órgão ministerial que reúne os titulares das pastas das Finanças dos países da moeda única.

“Mas temos de aprender as lições do passado e não repetir os mesmos erros”, acrescentou o responsável, em declarações recolhidas pela agência Efe. O que o número um do colégio de comissários não quis comentar diretamente foi o processo negocial em curso sobre a Grécia, forçada a pedir uma prorrogação do seu empréstimo.Críticas a Durão

Jean-Claude Juncker mostrou-se crítico da postura do antecessor, Durão Barroso, ao sublinhar que “antes não se falava em absoluto” sobre o programa de resgate do Estado helénico porque se “confiava cegamente no que a troika dizia”.
“Não critico os funcionários, mas não se coloca um alto funcionário perante um primeiro-ministro ou um ministro. Há que colocar diante deles um comissário ou um ministro sob a autoridade do presidente do Eurogrupo”, proporia ainda o presidente da Comissão.

“Quando chegar o momento tudo isto deve ser revisto”, insistiu.

O antigo primeiro-ministro luxemburguês martelou, todavia, a tecla da consolidação orçamental, sustentando que os governos europeus devem abster-se de hipotecar gerações futuras.

c/ Lusa 
pub