Luanda Leaks. Joalheira De Grisogono entra em falência

por RTP
O diamante em bruto "Constellation", com seis centímetros de largura, da companhia De Grisogono, mostrado durante uma conferência de imprensa em 2016; foi então comprado por 63 milhões de dólares Charles Platiau - Reuters

Parcialmente detida pelo marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, a joalheira suíça De Grisogono declarou esta quarta-feira a falência – ditada pelo acumular de dívidas e por não ter surgido um comprador. A decisão, que é conhecida na esteira das notícias sobre a investigação Luanda Leaks, vai ser comunicada nas próximas horas aos trabalhadores.

Recorde-se que na última semana o procurador-geral de Angola, Hélder Pitta Gróz, revelou, em entrevista à agência Lusa, que a joalheira suíça se encontrava sob a lupa das investigações judiciais em Angola. Designadamente o financiamento da Sodiam, diamantífera estatal, com o equivalente a 180 milhões de euros, com vista à aquisição da De Grisogono.
São 65 os profissionais que trabalham na fábrica da De Grisogono em Pan-les-Ouates, na Suíça.

Na base do arresto de bens da empresária Isabel dos Santos, no final do ano passado, esteve um despacho-sentença que dá como provado que, em agosto de 2010, o Governo de José Eduardo dos Santos, tomou a decisão de vender diamantes angolanos no estrangeiro.

“O antigo Presidente da República decidiu investir numa empresa suíça – De Grisogono-Joalheria de Luxo – que se encontrava em falência técnica em virtude de uma dívida para com os bancos UBS-Banco Cantonale de Genebra e BCV”
, lia-se no mesmo despacho-sentença, citado pela Lusa.

Nos termos da providência cautelar de arresto, foi dado como provado que o antigo Presidente angolano decidiu não só adquirir a dívida da empresa joalheira como “oferecer o negócio” à filha, Isabel dos Santos, e ao genro, Sindika Dokolo.

Luanda Leaks

Sabe-se desde a passada terça-feira que Isabel dos Santos está constituída arguida, em Luanda, por suspeitas de má gestão e desvio de verbas da petrolífera estatal Sonangol.

O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação destapou, no passado dia de 19 de janeiro, mais de 715 mil ficheiros, lançando luz sobre alegados esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido que terão permitido retirar dinheiro aos cofres público de Angola, por via do recurso a offshores.

Ainda da segundo a investigação, batizada como Luanda Leaks e que terá assentado em documentação obtida pelo pirata informático Rui Pinto, a filha do antigo Chefe de Estado angolano terá gizado um esquema de ocultação com vista a desviar mais de 100 milhões de dólares, ou 90 milhões de euros, para uma empresa sediada no Dubai e cuja única acionista declarada seria Paula Oliveira.

Outro dado revelado pela investigação jornalística: em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos era a principal acionista, foi esvaziada; um dia depois da saída da empresária da Sonangol, o saldo ficou negativo.

O EuroBic anunciou na semana passada a saída de Isabel dos Santos da sua estrutura acionista. Sucedeu o mesmo na Efacec. Também os três membros não executivos da administração da NOS conotados com a empresária anunciaram a saída da operadora.

Isabel dos Santos tem repetidamente refutado o que considera como “alegações infundadas e falsas afirmações”. Anunciou entretanto a intenção de avançar com ações em tribunal contra o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação.

c/ Lusa
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