Maçã Bravo Esmolfe espera oportunidade para conquistar mercados internacionais

A maçã de Bravo Esmolfe é portuguesa e única no mundo, deve o seu nome à aldeia de Esmolfe, Penalva do Castelo, mas a sua produção actual, apenas seis mil toneladas/ano, certificadas, impede a conquista dos mercados internacionais.

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Na Feira da Maça de Bravo Esmolfe, que há 12 anos se realiza na terra que foi o seu berço, Esmolfe, duas questões surgem anualmente tão importantes como o próprio produto: a sua certificação e a escassa rentabilidade para o produtor.

António Alves, produtor de Bravo Esmolfe, que vendia hoje de manhã a caixa de oito quilos por sete euros queixa-se à Agência Lusa do negócio: "Ó meu amigo, isto ou se vende barato ou não se vende de todo".

"As pessoas sabem que este é um produto único mas quando vêm a Bravo a ser vendida a 80 cêntimos ou a um euro e têm as outras variedades por 30 ou 40 cêntimos, optam pelo mais barato. E nós não podemos fazer menos", disse este produtor.

Há um factor que pode ser decisivo no futuro próximo, quando os estudos que estão a ser realizados provarem aquilo que já todos desconfiam: que a maçã de Bravo Esmolfe tem particularidades que podem fazer "milagres" na saúde das pessoas.

Mas, para já, o que é mais importante, como explicou à Lusa Rogério Martins, presidente da Fenafrutas, uma cooperativa de produtores, o esforço essencial para que esta maçã possa triunfar é colocar a certificação como prioridade.

"A afirmação da Bravo Esmolfe passa pelo consumidor que tem que ser informado da importância da certificação como elemento essencial da garantia de qualidade e, depois, então, o produtor perceber que este elemento - a certificação - é uma mais valia para o seu negócio", disse Rogério Martins.

José Luís Araújo, director da Gazeta Rural, publicação especializada no sector agrícola, coloca o dedo onde mais dói, que é o facto de os grandes lucros estarem concentrados na distribuição, onde ficam 70 por cento das mais valias geradas.

"Enquanto esta realidade se mantiver, vai ser difícil convencer os produtores a ir mais longe, nomeadamente no processo de certificação", disse o jornalista, defendendo ainda que "a certificação deve ser rapidamente descomplicada e menos onerosa".

Neste momento a Bravo Esmolfe já usufrui da Denominação de Origem Protegida e a Felba - Promoção das Frutas e Legumes da Beira Alta, é a entidade responsável pela certificação.

César Pereira, gestor de produtos de qualidade da Felba, não tem dúvida alguma de que o potencial esta maçã para o mercado da exportação "é enorme", para além de ser um veículo da imagem do país, mas, admite, as seis mil toneladas/ano certificadas não permite grandes aventuras para lá da fronteira.

No entanto, o cenário pode mudar radicalmente, adianta César Pereira, que lembra que actualmente a produção nacional de maçã é de 300 mil toneladas/ano, 130 das quais na Beira Alta, 43 por cento do total nacional, sendo que a Bravo Esmolfe apenas perfaz seis mil do bolo total.

"No mínimo e a médio/curto prazo, a produção pode crescer 10 vezes", diz este técnico, tendo em conta que são mais de três dezenas de concelhos abrangidos pela região demarcada, agregando quatro distritos, Viseu, Guarda, Castelo Branco e Coimbra.

O potencial médio de produção da Bravo Esmolfe chega às 20 toneladas por hectare, embora as outras variedades cheguem às 40, mas entre as vantagens e as desvantagens inerentes à natureza do produto, todos auspiciam um "bom futuro" à Bravo Esmolfe.

Tojal Rebelo, gerente da SOMA, Sociedade Agro-Comercial que se dedica à produção, armazenagem e distribuição, sendo uma das mais importantes empresas do sector no país, com sede em Moimenta da Beira, aponta como "contras" o facto de ser uma maçã "muito sensível", alterna bons com maus anos e tem queda precoce.

Por outro lado, nos "prós", estão o facto de ser uma maça que floresce mais tarde, exige menos intervenção fitossanitária, escapa à época das geadas e resiste bem ao "pedrado", doença da maçã.

Para resolver está ainda a "guerra" entre as empresas que distribuem o produtor e as grandes superfícies, com estas a reivindicar, para aceitarem vender a maçã, que esta surja com a sua marca, o que prejudica todos os outros a montante do processo entre a produção e a intermediação.

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