Maior indústria moçambicana anuncia suspensão de operações a partir de 15 de março

A administração da australiana South32 anunciou hoje que a Mozal, maior indústria de Moçambique, vai suspender atividades a partir de 15 de março de 2026, face à falta de um novo acordo de fornecimento de eletricidade.

Lusa /

"Não foi assegurado um novo acordo de fornecimento de eletricidade e a Mozal será colocada em manutenção e conservação por volta de 15 de março de 2026. Consequentemente, as matérias-primas necessárias para sustentar as operações após março de 2026 não foram adquiridas", lê-se num comunicado enviado à comunicação social.

Segundo o documento, a Mozal continua a dialogar com o Governo de Moçambique, a Hidroelétrica de Cahora Bassa e a sul-africana Eskom para garantir o fornecimento de "eletricidade suficiente e acessível" até à suspensão em março, altura em que o acordo em vigor expira.

"Ao longo das nossas negociações, salientamos que a capacidade da Mozal para continuar a operar dependia da garantia de eletricidade suficiente a um preço que permitisse à fundição manter a sua competitividade internacional. Infelizmente as partes permaneceram num impasse quanto ao preço adequado para eletricidade, o que foi agravado pelas condições de seca que afetam o fornecimento de eletricidade da HCB", disse o diretor executivo da South32, Graham Kerr, citado no comunicado.

O responsável admite que o anúncio "é difícil" para a equipa da empresa e vai também impactar os fornecedores, clientes, comunidades e outros interessados.

"Compreendemos que o anúncio de hoje é difícil para a nossa equipa na Mozal e estamos empenhados em apoiá-los ao longo deste processo (...). Estamos a colaborar com eles à medida que fazemos a transição das operações para a manutenção e conservação nos próximos meses", referiu Graham Kerr.

 De acordo com o comunicado, o custo de manutenção, incluindo rescisão de contratos, deverá ser de cerca de 60 milhões de dólares (51 milhões de euros) e os custos anuais contínuos de manutenção e conservação serão de cerca de cinco milhões de dólares (4,2 milhões de euros).

"A alumina fornecida pela nossa refinaria Worsley Alumina à Mozal será vendida a clientes terceiros. A South32 garantiu opções com clientes para vender esta alumina a preços indexados", refere-se ainda no documento, no qual a se acrescenta que a orientação de produção para o ano fiscal de 2026, até março, "permanece inalterada em 240 mil toneladas".

A Mozal anunciou em agosto que pretende cortar no investimento e dispensar empreiteiros contratados, mantendo apenas a operação até março, alegando não ter condições de continuidade. Pouco dias depois, a Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique revelou que a Mozal rescindiu contratos, de forma "súbita", com cerca de 20 empresas, deixando pelo menos mil desempregados.

Em 22 de agosto, o Governo moçambicano considerou "extremamente baixa" a contribuição fiscal da maior indústria moçambicana, manifestando interesse em avançar com uma revisão das suas obrigações neste domínio.

A Mozal compra quase metade da energia produzida em Moçambique e tem um peso estimado de pelo menos 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 18 de agosto, o Presidente moçambicano afirmou que as tarifas de energia propostas pela Mozal levariam ao colapso da HCB, reagindo à ameaça de encerramento da unidade de fundição de alumínio em 2026.

O fornecimento de eletricidade à Mozal é feito através da sul-africana Eskom, que por sua vez compra energia à HCB - 66% do total produzida em 2024 -, que funciona no centro de Moçambique, mas o Governo moçambicano pretende reverter este cenário.

A Lusa noticiou em fevereiro de 2024 que o Governo moçambicano pretende repatriar a partir de 2030, para uso doméstico, a eletricidade que exporta da HCB para a África do Sul desde 1979, conforme consta da Estratégia para Transição Energética em Moçambique até 2050.

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