Mercado dos "reinventados" jogos de tabuleiro cresce 15% a 20% ao ano em Portugal
Porto, 27 jan (Lusa) -- Recusando ser "um revivalismo que voltou a estar na moda", mas antes uma verdadeira "reinvenção" do setor, a nova indústria dos jogos de tabuleiro disparou internacionalmente e, mais recentemente, em Portugal, cujo mercado cresce 15% a 20% ao ano.
Em entrevista à agência Lusa, o fundador e sócio-gerente da editora portuguesa de jogos de tabuleiro MEBO Games -- integrada no grupo financeiro Henry Reynaud -- admitiu que "a cultura dos jogos de tabuleiro é ainda incipiente" em Portugal, apesar de "fortíssima" em países como os EUA, Alemanha, França ou Polónia, mas afirmou-se confiante no potencial de crescimento do mercado interno.
"Tenho o desejo secreto que o mercado em Portugal suba muito e nos dê bastante trabalho", disse Gil d`Orey, apontando como objetivo duplicar a atual faturação de 240 mil euros da empresa no país, para meio milhão de euros, "dentro de dois ou três anos".
Em 2018 cerca de 40% do volume de negócios de 400 mil euros da MEBO Games foi obtido no estrangeiro, com a empresa a vender jogos para uma dezena de países: EUA, China, Japão, Alemanha, Espanha, França, Itália, Rússia, Polónia e Brasil.
Para este ano, a meta é aumentar as vendas totais em 25%, para os 500 mil euros, e o interesse demonstrado por uma editora da Coreia do Sul poderá levar os jogos da empresa portuguesa a esta nova geografia.
Desde muito novo fascinado pelos jogos de tabuleiro, Gil d`Orey decidiu, aos 40 anos, transformar este `hobby` em negócio, fundando uma editora que se dedica exclusivamente à criação e comercialização de jogos de tabuleiro dirigidos a todas as faixas etárias.
"A MEBO Games marca a diferença porque cria e edita novos e originais jogos de tabuleiro", refere, explicando que alguns dos jogos "baseiam-se em acontecimentos importantes da História de Portugal, como são os casos de `Caravelas`, `D. Afonso Henriques` ou `Estoril 1942`", enquanto "outros apostam em temas transversais, para poderem ser mais facilmente comercializados noutros países, como o `Viral` ou o `Panamax`".
Além das criações próprias, a MEBO Games também edita, em português de Portugal, jogos internacionais de sucesso como o `Passa o Desenho`, `Sagrada`, `O Rei de Tóquio` e `A Nossa Casa`.
Em Portugal, os jogos da MEBO estão disponíveis nas superfícies comerciais, livrarias e pequeno comércio, mas o mercado é ainda "muito pequeno, porque as pessoas tendem a ver os jogos de tabuleiro apenas como atividades para as crianças" ou como "um revivalismo que, um pouco como as calças à boca de sino, agora ficou na moda".
Contudo, Gil d`Orey garante que a nova indústria de jogos de tabuleiro "nada tem a ver com revivalismo", sendo antes uma verdadeira "reinvenção" do que anteriormente se fazia.
E, destaca, numa altura em que as pessoas passam várias horas por dia "isoladas à frente de um computador", esta indústria tem o mérito de promover "o envolvimento humano" e a comunicação.
"Os jogos de tabuleiro tornam-nos mais humanos, obrigam-nos a comunicar uns com os outros, a estar à volta da mesa, a ouvir e a falar. Isto dá uma nova dimensão e permite uma maneira de estar de que, hoje em dia, as pessoas têm necessidade", sustenta Gil d`Orey.
"É uma maneira lúdica de interagir e brincar que parece muito antiga, mas é muito moderna, porque hoje em dia os jogos têm mecânicas modernas e superatractivas, com as mais diversas e apelativas temáticas, e muitos são quase uma história", acrescenta.
De acordo com o fundador da MEBO Games, "os jogos de tabuleiro nunca desapareceram completamente, mas ficaram muito reduzidos em determinada altura", tendo começado a ressurgir a partir do início dos anos 90, principalmente no mercado alemão, onde apareceram "alguns jogos com propostas interessantes em termos de mecânica e de interação".
"Talvez o Catan [criado pelo alemão Klaus Teuber] tenha sido o grande jogo que, no princípio dos anos 90, de repente desbloqueou a maneira de as pessoas pensarem sobre os jogos de tabuleiro, que até aí eram um nicho. A partir daí foi um `boom` enorme de jogos novos", explicou Gil d`Orey.
Em Portugal, a MEBO Games tenta cativar novos adeptos deste `hobby` apoiando as várias convenções de jogos de tabuleiro organizadas no país, de Lisboa, a Leiria, Porto e Braga, apostando também na promoção de torneios e de demonstrações nas lojas que comercializam os seus títulos e no "passa palavra" nas redes sociais.
Segundo Gil d`Orey, a estratégia de crescimento da MEBO Games passa por apresentar os vários jogos que vai criando a editoras estrangeiras que, "se estiverem interessadas, compram a licença mundial desse jogo" em determinado idioma, assegurando depois a respetiva distribuição.
O facto de não haver em Portugal "nenhuma fábrica especializada em produzir jogos de tabuleiro" tem obrigado a editora a encomendar a produção dos seus jogos em países como a Alemanha, a Polónia, a Itália e, sobretudo, a China, cujos "preços e qualidade" apresentadas o empresário diz ser "muito difícil contrariar".