Moody`s corta rating da dívida portuguesa em quatro níveis

por RTP
A Moody's diz que existe o risco crescente de Portugal necessitar de um segundo empréstimo antes de regressar aos mercados, no segundo semestre de 2013 Justin Lane, EPA

A agência de notação financeira Moody's cortou o 'rating' de Portugal em quatro níveis, de Baa1 para Ba2. Foi uma queda de quatro níveis, que coloca a dívida do país na categoria de 'lixo' (junk), com a agência a não colocar de parte um novo corte nos próximos tempos. O Governo português acusa a Moody's de não ter levado em conta os cortes no subsídio de Natal ou o consenso sobre as medidas de austeridade.

São três as razões que a agência de notação apresenta para esta revisão baixa, deixando ainda o aviso de que poderá em breve proceder a novo corte relativamente à notação de Portugal. Primeiro, argumenta a Moody's que existe o risco crescente de Portugal necessitar de um segundo pacote de empréstimos internacionais antes de estar em condições de regressar aos mercados, no segundo semestre de 2013. As agências de notação financeira Standar & Poor's e Fitch mantêm o "rating" de Portugal em BBB-, um nível acima do limiar de "grau de investimento"

A "possibilidade crescente de a participação dos investidores privados ser imposta como pré-condição" para esse segundo resgate, à semelhança do que está a ser estudado no âmbito de um segundo pacote de ajuda à Grécia, é outra das razões que levam a agência a manter o 'outlook' negativo.

Por último está o agravamento dos receios de que Portugal não venha a ser capaz de cumprir a totalidade das metas de redução do défice e da dívida acordadas com a ‘troika’ (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) no âmbito do empréstimo de 78 mil milhões de euros.

A previsibilidade de um incumprimento terá a ver, refere a Moody’s, com os "desafios formidáveis que o país está a enfrentar ao nível da redução das despesas, cumprimento das obrigações fiscais, crescimento da economia e apoio ao sistema financeiro".

Governo aponta falhas na análise da Moody’s
Em reacção à decisão da Moody’s, o Ministério das Finanças sublinha que a agência de notação não levou em linha de conta "os efeitos da sobretaxa extraordinária em sede de IRS anunciada pelo Governo durante o debate do programa de Governo, no final da passada semana" e "não terá tido em devida conta" o "amplo consenso político que suporta a execução das medidas acordadas com a troika".

Neste último ponto, a equipa de Vítor Gaspar defende que o "resultado das eleições de 5 de junho passado (com votação de mais de 80% nos partidos que subscreveram o memorando com a troika) propicia inegavelmente condições favoráveis para o cumprimento integral dos objetivos macroeconómicos e das reformas estruturais acordadas com os nossos parceiros europeus e internacionais", o que não terá sido levado em linha de conta na análise da Moody’s.

Corte reforça necessidade de “apertar” contas
Mas o Governo também olha para esta decisão como um sinal que legitima o pacote de austeridade que deverá imprimir na vida dos portugueses: "O downgrade ora anunciado revela o ambiente adverso da crise da dívida soberana e as vulnerabilidades da economia portuguesa neste contexto", o que "confirma que a apresentação de um programa robusto e sistémico de ajustamento macroeconómico constitui a única abordagem possível para inverter o rumo e recuperar credibilidade".

"A estratégia de ajustamento inclui um esforço determinado para controlar e reduzir a despesa pública na execução orçamental de 2011 e na consolidação orçamental em 2012 e nos anos seguintes. Nesta estratégia enquadra-se ainda a aceleração do programa de privatizações que, mais uma vez, demonstra a vontade do Governo em antecipar e aprofundar medidas previstas nos memorandos de entendimento", acrescenta o comunicado do Ministério das Finanças.
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