Movimento anti-TGV denuncia erros técnicos do projecto

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Ataíja de Baixo, Leiria, 09 Fev (Lusa) - Dirigentes do movimento ATAC (Amigos da Terra por Amor à Camisola) denunciaram hoje em Alcobaça aquilo que consideram ser erros técnicos da linha de TGV entre Lisboa e Coimbra, que ignora locais de relevo ambiental e patrimonial.

"Ainda hoje estivemos em grutas não referenciadas pela RAVE (empresa que gere o processo) e que vão ficar destruídas pela linha", afirmou Noémia Rodrigues, que acusa os promotores de optarem pela solução técnica "mais barata" sem ligar às populações e localidades divididas

O movimento tenciona avançar com uma acção judicial contra o Estado, "se possível até nas instâncias europeias", pelo que irá apresentar uma contestação ao projecto da RAVE, com recurso a "pareceres técnicos que estão a ser reunidos".

Hoje de tarde, o ATAC realizou uma sessão de esclarecimento na localidade de Ataíja de Baixo, Alcobaça, onde elencou os riscos ambientais do projecto, bem como os prejuízos causados às populações.

Na reunião, esteve presente João Salgueiro, presidente da Câmara de Porto de Mós (PS), que também defendeu uma opção diferente para o traçado.

"Das propostas em cima da mesa, a solução que vai ser adoptada é que menos penaliza Porto de Mós" mas João Salgueiro mostra-se solidário com as queixas do concelho vizinho de Alcobaça, considerando que a tutela deveria atender às reivindicações das populações.

Uma solução que iria contentar todas as partes seria a construção do TGV entre o IC2 e a serra dos Candeeiros, criando um novo limite para o Parque Natural e "libertando" a envolvente da estrada nacional para um "correcto ordenamento do território".

"Neste momento, o limite do parque é a estrada que parece mais um estaleiro de obras mas onde nós não podemos intervir", lamentou João Salgueiro.

Em curso está uma petição a enviar ao Parlamento promovida pelas freguesias mais atingidas pelo traçado que já conta com milhares de assinaturas.

"Na minha freguesia são destruídas dez casas e há várias terras divididas", afirmou José Lourenço, presidente da Junta de Prazeres de Aljubarrota, que se queixa de nunca ter sido ouvido pelos promotores do traçado.

"Nós queremos que haja um estudo comparativo a leste e a oeste da Serra dos Candeeiros" porque "não aceitamos que nos imponham uma solução única", acrescentou.

As autarquias defendem que a linha do TGV, a ser construída, deverá ser instalada junto ao corredor da A1 ou da Linha do Norte em vez de criar um novo "corredor que vem trazer mais problemas".

Amílcar Raimundo, da Junta de São Vicente, concorda e acredita ainda que a eventual escolha de Alcochete para acolher o novo aeroporto de Lisboa possa desviar a linha para este.

"O TGV fazia sentido a partir da Ota mas assim já não sei", explicou Amílcar Raimundo.

Valdemar Rodrigues, um engenheiro ambiental que trabalhou na RAVE, considerou que é uma "péssima solução construir um novo canal de alta velocidade" quando já existem outros transportes alternativos.

"Do ponto de vista ambiental e social é um projecto totalmente irracional", sustentou.

Já os ambientalistas, que estiveram hoje numa sessão de esclarecimento em Ataija de Cima, também contestam a construção da linha.

José António Gaspar, dirigente regional da Quercus (que deu um parecer negativo ao traçado), recorda que a linha vai afectar uma zona ambiental muito sensível nas nascentes do rio Alcoa, com colónias de vários animais (entre as quais uma espécie de águia e lontras) e fauna protegida (carvalhal e azinhal).

O presidente da Associação de Defesa do Ambiente e do Património de Alcobaça (ADEPA), Carlos Mendonça, classificou de "crime" a construção do TGV nesta zona, criticando mesmo a opção de uma linha entre Lisboa e Porto.

"Não acreditamos que alguma vez venha a ser rentável", acrescentou o dirigente, que aponta a riqueza arqueológica do local como uma das questões mais sensíveis.

Na ribeira do Mogo, existem "13 grutas referenciadas" com ocupação neolítica, cujo levantamento arqueológico ainda não foi concluído, salientou ainda Carlos Mendonça.


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