Mulheres. São mais, têm mais escolaridade, mas mandam e ganham menos

por Cristina Santos - RTP
Hannah Busing - Unsplash

Falamos de mulheres no setor cooperativo, mas a partir dos resultados de um estudo nacional também podemos dizer que estamos a falar da maior força de trabalho das cooperativas. As mulheres têm níveis de escolaridade superiores aos dos colegas homens. No entanto, ganham menos - em média, cerca de 80 euros - e estão sub-representadas nos órgãos dirigentes.

As conclusões são de um estudo feito por uma equipa do Centro de Investigação em Sociologia Económica e Organizações (SOCIUS), do ISEG-Universidade de Lisboa, a pedido da Confederação Cooperativa Portuguesa (CONFECOOP).

O estudo, divulgado pela Lusa, partiu da informação de quadros de pessoal de 2021, foi analisada uma subamostra de 19.052 trabalhadores de um total de 874 entidades, o que representa cerca de 41 por cento do setor cooperativo nacional.

A análise permitiu perceber que há mais trabalhadoras (representam 60,4 por cento) e com níveis de escolaridade superiores aos dos colegas do sexo masculino. "Com perto de 40% a deterem um curso superior, face a menos de 30% dos homens".

O estudo identificou também a desigualdade salarial entre homens e mulheres, na "remuneração média mensal base” as trabalhadores recebem “-78,93Euro/mês que os homens”

Quando se compara “o ganho, (remuneração base + prémios e subsídios regulares + remuneração por trabalho suplementar)”, as mulheres recebem menos “147,34Euro/mês face aos seus pares do sexo masculino".
A desigualdade salarial é transversal a todos os níveis de escolaridade, mas é mais acentuada nos "trabalhadores com o ensino superior". 
Neste caso concreto, as mulheres recebem por mês “menos 337,21 euros” de remuneração base do que os colegas com o mesmo nível de escolaridade.

Quando a análise se centra no ganho (remuneração base + prémios e subsídios regulares + remuneração por trabalho suplementar), as mulheres com o ensino superior recebem mensalmente menos 414,38 euros que os homens nas mesmas condições.

Os homens dominam os órgãos sociais das cooperativas. No total, a representação de mulheres nos órgãos sociais atingia os 23,9 por cento em 2019. Em 2021, a subida não chegou a dois por cento, uma vez que apenas 25,3 por cento dos cargos dirigentes eram ocupados por mulheres.

Analisando os cargos nos diferentes órgãos sociais (tendo como referência 2021) há menos mulheres na fiscalização das cooperativas (cerca de 24 por cento), depois na administração (com cerca de 25 por cento de presença feminina) e com maior representação de mulheres surge a mesa da assembleia geral (que ronda os 28 por cento).

Portanto, existe "uma expressiva sub-representação de mulheres em 2019 e 2021" no total dos órgãos sociais das cooperativas com dados no Portal de Credenciação. No entanto, analisando por setor de atividade, os investigadores encontraram oscilações. No setor das pescas, as mulheres representam apenas 2,1 por cento dos lugares nos órgãos sociais. Já no setor do artesanato as mulheres têm 87, por cento do total de cargos.

O setor social, o setor da produção operária ou o ensino "são aqueles com uma representação mais equilibrada de mulheres e homens nos órgãos sociais".

Os dados mostram ainda que "as mulheres estão em maior proporção" na amostra de trabalhadores nas cooperativas registadas.

O ramo cooperativo do artesanato é o único que tem 100 por cento de trabalhadoras mulheres.

"Segue-se o da solidariedade social (83,6% de trabalhadoras, face a 16,4% de trabalhadores), sendo o pódio fechado pelo ramo do consumo (75,3% de trabalhadoras, face a 23,7% de trabalhadores)", lê-se no estudo.
Recomendações dos investigadores
O estudo recomenda a imposição de quotas “de mulheres e homens nos órgãos sociais e/ou cargos dirigentes das cooperativas". Para além da elaboração de um “relatório trienal sobre as remunerações”, reuniões para “discutir as políticas de remuneração ou a criação de procedimentos para denúncia de casos de discriminação”.

Os investigadores sugerem ainda “auditorias de género” e a "promoção de uma cultura inclusiva que desafie estereótipos de género e proporcione iguais oportunidades de progressão na carreira para mulheres e homens".
Tópicos
PUB