Nexperia. Países Baixos decidem controlar fabricante chinesa de "chips" para evitar transferência de tecnologia

Neste domingo, o Governo dos Países Baixos anunciou que assumiu o controlo da Nexperia, uma fabricante chinesa de circuitos integrados com sede em Nijmegen. Esta manobra governamental, classificada como "altamente excepcional", serve o objetivo de salvaguardar o fornecimento europeu de semicondutores para carros e outros produtos eletrónicos e proteger a segurança económica da Europa, argumentou o executivo.

Carla Quirino - RTP /
Fabian Bimmer - Reuters

O Governo neerlandês anunciou na noite de domingo que tomou a decisão de intervir no controlo da empresa chinesa Nexperia devido a "sérias deficiências de gestão", citando preocupações com transferência de tecnologia para a empresa-mãe chinesa, a Wingtech.

Amsterdão invocou poderes nunca antes utilizados sob a lei neerlandesa.

Esta decisão, considerada "altamente excepcional", foi invocada como forma de evitar que a produção destes circuitos integrados se tornem indisponíveis em caso de emergência no setor.

Citado na BBC, o Governo apontou questões em torno do “conhecimento tecnológico crucial” sem dar mais detalhes, declarando que "a perda dessas capacidades pode representar um risco para a segurança económica holandesa e europeia".

Ao anunciar esta tomada de posição no controlo da empresa Nexperia, com sede em território neerlandês, o Governo dos Países Baixos aumentou as tensões com Pequim, que se prepara para a luta sobre a propriedade intelectual de tecnologia, especialmente em torno de semicondutores.

O presidente da Wingtech foi suspenso dos conselhos de decisão da Nexperia por uma ordem judicial de Amsterdão a 6 de outubro, porém o Governo nerlandês garante que não se apropriará do fabricante de "chips". 

No entanto, o controlo governamental permitirá "reverter ou bloquear decisões de gestão" que considere prejudiciais. Entretanto, a produção da empresa prossegue de forma regular.

O Governo também deixou claro que não houve envolvimento dos Estados Unidos na decisão.

Washington e Amesterdão normalmente cooperam estreitamente nos controlos de exportação da indústria de circuitos eletrónicos de computador, porém, não terá sido o caso, de acordo com um porta-voz do Ministério de Assuntos Económicos. Citado na Reuters, o porta-voz afirmou que não havia envolvimento dos EUA na decisão sobre a Nexperia e foi "puramente coincidência" ter acontecido neste momento.

Como parte de uma guerra comercial mais ampla, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou na semana passada aumentar as taxas em 100% sobre as exportações chinesas.
"Interferência excessiva"

A Nexperia é na totalidade propriedade da Wingtech, mas já fez parte do grupo de fabricantes de eletrónica nacional, a Philips.

A empresa chinesa reagiu entretanto, classificando a intervenção do Governo neerlandês na Nexperia de “interferência excessiva, impulsionada por um viés geopolítico”.A empresa é uma das maiores fabricantes mundiais de circuitos eletrónicos para computador, como diodos e transistores, embora também desenvolva tecnologias mais avançadas, como semicondutores usados em ambientes elétricos e úteis para carros elétricos, carregadores e centros de dados de IA.

A Wingtech indicou ainda que após a suspensão do seu presidente, Zhang Xuezheng, uma pessoa independente não chinesa com "voto de decisão" foi nomeada para ocupar esse lugar.

A proprietária também alegou que os executivos não chineses da Nexperia tentaram alterar à força a estrutura do trabalho da empresa através de procedimentos legais.

Em comunicado, a Wingtech referiu que estava a consultar advogados e a procurar apoio do Governo chinês para “proteger os direitos e interesses legítimos da empresa”.

A decisão levou a uma queda de dez por cento nas ações da Wingtech em Xangai, nesta segunda-feira.

A Nexperia, que a Wingtech comprou por 3,14 mil milhões de euros em 2018, garante que cumpriu todas as legislações e regulamentos relevantes.

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