"O último patamar de luta". Já começou a "grande greve" da função pública

A Frente Comum iniciou às 0h00 desta sexta-feira uma "grande greve" da Administração Pública contra o Governo, acusando-o de degradar as condições de trabalho e desinvestir nos serviços públicos. A RTP falou com Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP-IN, para quem este "último patamar de luta" deve ser visto pelo Executivo como o momento de "dar uma resposta efetiva".

Joana Raposo Santos - RTP /
Foto: Filipe Silva - RTP

Ao longo de 24 horas espera-se a adesão de professores, educadores e auxiliares das escolas, médicos, enfermeiros e auxiliares dos serviços de saúde, trabalhadores dos transportes públicos, inspetores e funcionários do Fisco, funcionários judiciais, entre outros.

O aumento dos salários, a valorização das carreiras, a reposição do vínculo público e a defesa dos serviços públicos são também motivos para a convocação da paralisação que abrange todos os trabalhadores do Estado.

O secretário-geral da CGTP-IN juntou-se aos trabalhadores da saúde às 00h00 no Hospital de São José, em Lisboa, e fará o mesmo às 12h00 no Hospital de São João, no Porto.

“Estão a ser lançados os primeiros dados. Fruto das trocas de turnos, já há hospitais onde essa greve se está a fazer sentir. Aqui no [hospital] de São José já temos números de 75 por cento. No São João, no Porto, 75 por cento”, disse Tiago Oliveira à RTP.

Segundo este responsável sindical, o Hospital D. Estefânia e o Hospital de Lamego contam já com uma adesão de 100 por cento.

“São números que revelam, de facto, insatisfação que existe no seio dos trabalhadores da Administração Pública”, assim como “a necessidade de respostas deste Governo perante todos os anos de esquecimento destes trabalhadores”, frisou Tiago Oliveira.

“Partindo do princípio que a greve é o último patamar de luta, o Governo tem de olhar para esta adesão, para esta dimensão, para estes problemas e dar uma resposta efetiva”, em vez de “continuar a empurrar os problemas para a frente”, como tem acontecido “durante décadas”, acrescentou.

Também a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) convocou uma paralisação para esta sexta-feira, que coincide com a da Função Pública, por considerar que a tutela está a recusar negociar a carreira médica.

"Uma vez que está a haver uma recusa da ministra da Saúde em negociar verdadeiramente a carreira médica e, acima de tudo, por ter apresentado decisões que põem em risco a população, estamos a anunciar a greve de médicos para o dia 24 de outubro em todo o país", disse à agência Lusa a presidente da Fnam, Joana Bordalo e Sá, depois de uma reunião com a ministra Ana Paula Martins. A Frente Comum representa 29 sindicatos de todos os setores da Administração Pública.

Em comunicado, os professores, educadores e investigadores anunciaram que vão aderir à greve - convocada também pela FENPROF -, declarando a sua adesão à luta "por melhores condições salariais e profissionais", assim como "pela valorização da escola pública e da ciência".

Na conferência de imprensa de terça-feira, o dirigente sindical Sebastião Santana afirmou que os trabalhadores não podem aceitar um Orçamento do Estado de degradação das condições de trabalho e desinvestimento nos serviços públicos.

"São 760 mil pessoas [que são] trabalhadores da Administração Pública, têm um peso muito grande na sociedade portuguesa. Se o Governo não tem isto em atenção trata-se de uma miopia muito grave", disse.

O Governo entregou a 9 de outubro a proposta do Orçamento do Estado para 2026 na Assembleia da República, mantendo a previsão inicial de aumentos salariais para a função pública prevista no acordo plurianual assinado em novembro de 2024 com a Fesap e a Frente Sindical.

Para 2026, o aumento previsto é de 56,58 euros ou 2,15 por cento, passando para 60,52 euros em 2027 e 2028, com extensão até 2029. A base remuneratória da Administração Pública, atualmente de 878,41 euros, passará para 934,99 euros em 2026, incluindo progressões, promoções e acordos salariais, num total estimado de 1.248 milhões de euros em despesas com pessoal.

c/ Lusa
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