OCDE aponta que sinais de retoma não significam normalização
O secretário-geral da OCDE afirmou que Portugal está mis preparado do que nunca para combater a crise, mas alerta que o desemprego na Europa vai continuar a crescer porque "a crise ainda não bateu no fundo". Para combater a contracção económica, Angel Gurría aconselha projectos com efeitos imediatos, em detrimento dos grandes projectos de obras públicas.
O Executivo socialista tem defendido como linha mestra do plano de recuperação económica a construção de um novo aeroporto para a capital e de uma linha de comboio de alta velocidade. A Oposição contesta a opção, por considerar que a verba exigida pelas infraestruturas irá ter um efeito nefasto nas contas públicas.
A redução dos impostos deverá dirigir-se para os contribuintes de mais baixos rendimentos, aconselha Gurría.
Portugal mais preparado para enfrentar a crise
As reformas promovidas pelo Executivo socialista merecem nota positiva do secretário-geral da OCD, que sublinha a necessidade da sua prossecução. "Temos acompanhado Portugal nos últimos anos nas suas decisões políticas e temos observado com grande admiração que têm existido grandes reformas estruturais no âmbito do Trabalho e da Segurança Social que tornaram a economia mais flexível (...) contudo, é necessário continuar as reformas. É essencial", disse.
Angel Gurría defende as políticas reformistas são para aplicar durante este ano. "Se calhar, este é o melhor momento para essas reformas porque as pessoas estão conscientes de que elas são necessárias", alvitra.
Ainda para o secretário-geral da OCDE, a resposta de Portugal à crise económica em curso está a beneficiar das "decisões tomadas anteriormente". "Agora temos indicadores interessantes que apontam para um desenvolvimento ligeiramente melhor em Portugal", diz Angel Gurría, em comparação com "o passado", quando a economia portuguesa se desenvolvia "um pouco abaixo da média europeia - a Europa baixava e Portugal baixava um pouco mais; a Europa recuperava e Portugal demorava um pouco mais para recuperar".
Economia europeia "ainda não bateu no fundo"
"Nas suas manifestações, a crise ainda não bateu no fundo. Vamos ter mais manifestações ao nível do emprego", antecipa Gurría, que espera a continuidade da escalada do desemprego. "A crise financeira tornou-se numa crise económica e numa severa crise de desemprego. Todos os países têm os mesmos problemas. Portugal está mais ou menos na média europeia do ponto de vista do desemprego", comentou.
Os sinais de contracção deverão manifestar-se até ao final do próximo ano. "A tendência é clara: 2009 será mau. Podemos esperar o fim da recessão para 2010", afirmou.
Angel Gurría considera que a economia europeia demonstra "alguns sinais de retoma, mas não falaria de uma normalização". Apesar dos sinais positivos, o problema de crédito persiste principalmente para as empresas. "Os problemas começaram nos bancos, há já dois anos e ainda não vemos o fim. Os bancos ainda não emprestam normalmente", aponta.
A crise mundial reflecte, segundo Gurría, o "massivo falhanço da regulação, da supervisão e do Governo das sociedades". A OCDE definiu como prioridade a criação de "uma economia forte e limpa", a promoção de "mercados abertos e o emprego", assim como combater "o nacionalismo económico".