OCDE quer "trazer mais jovens trabalhadores, todo o talento disponível"

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresentou esta terça-feira, em Paris, as Perspetivas Económicas globais para os próximos dois anos.

RTP /
Foto: Benoit Tessier - Reuters

Luis de Mello, diretor do Departamento de Estudos Nacionais da OCDE, sublinhou esta terça-feira que a resposta aos desafios estruturais exige “trazer mais jovens trabalhadores, todo o talento disponível”, num momento em que vários países enfrentam mercados laborais pressionados e crescimento moderado.

O lançamento das Perspetivas Económicas da OCDE ficou marcado pela apresentação de Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE e dos discursos de Luis de Melo e Åsa Johansson, da Direção de Estatística e Dados da OCDE.

Mathis Cormann apresentou um retrato de resiliência económica global, ainda que marcado por fragilidades que exigem ação imediata. A economia mundial deverá desacelerar de 3,2% em 2025 para 2,9% em 2026, refletindo tensões comerciais, incerteza política e níveis elevados de dívida pública.

A inflação nas economias do principal fórum de cooperação económica internacional (G20) deverá recuar para 2,5% até 2027, aproximando-se dos objetivos dos bancos centrais. Para Cormann, este contexto exige disciplina orçamental e reformas estruturais que reduzam burocracia, reforcem a concorrência e promovam o dinamismo empresarial, num cenário em que o investimento em inteligência artificial continua a crescer e a sustentar a procura.

A vice-diretora de Estatísticas e Dados da OCDE, Åsa Johansson, destaca o “boom no investimento em IA” e o papel das políticas macroeconómicas no apoio às condições financeiras, sublinhando que os países têm de garantir “acessibilidade e sustentabilidade a longo prazo”.

Luis de Mello sublinha os contrastes entre economias europeias. Refere que a Itália continua penalizada pelo fraco investimento, enquanto países como o Reino Unido dependem ainda de orçamentos que assegurem financiamento contínuo. Já sobre a economia espanhola, é categórico: “a Espanha tem tido um desempenho muito forte. O investimento foi suportado pelos fundos europeus”.
Economia portuguesa deverá acelerar para 2,2% em 2026

No caso português, o relatório da OCDE antecipa um percurso mais favorável do que o verificado no conjunto da Zona Euro. Depois de um crescimento estimado de 1,9% em 2025, a economia portuguesa deverá acelerar para 2,2% em 2026, antes de abrandar para 1,8% em 2027.

A organização identifica como motores principais o aumento dos salários, o emprego robusto e o efeito das reduções de IRS, que irão apoiar o rendimento disponível das famílias. A inflação em Portugal deverá moderar-se lentamente, atingindo 2,0% em 2027.
Contudo, a instituição alerta que a redução dos desembolsos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e a elevada incerteza poderão limitar o investimento, enquanto a procura externa deverá permanecer fraca devido ao aumento das tarifas dos EUA e às fricções comerciais. O mercado de trabalho continuará forte, mas a taxa de poupança das famílias e uma evolução salarial superior ao esperado poderão simultaneamente impulsionar o consumo e pressionar os preços.

A OCDE recomenda prudência orçamental a Portugal, lembrando que 2026 será um ano ainda expansionista, mas que 2027 marcará um regresso a uma política mais restritiva com o fim da aplicação do PRR. A organização defende que reformas estruturais e contenção das despesas ligadas ao envelhecimento serão essenciais para libertar recursos para investimento público e assegurar a manutenção da dívida pública numa trajetória descendente.

Com riscos adicionais associados à volatilidade dos criptoativos, à crescente interligação das instituições financeiras não bancárias e ao impacto ainda incompleto das tarifas comerciais, a OCDE insta os governos a manterem políticas monetárias vigilantes e finanças públicas sustentáveis.

A mensagem é clara: num momento de incerteza, só reformas decisivas garantirão que a resiliência demonstrada até agora não se transforma numa vulnerabilidade prolongada.
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