Operários da Delphi conformados com fecho da fábrica e alguns já preparam futuro
Ponte de Sor, Portalegre, 04 Abr (Lusa) - Os operários da multinacional norte-americana Delphi mostraram-se hoje conformados com o encerramento da fábrica de Ponte de Sor, mas, apesar de alguns já terem acautelado o futuro, alegam preocupação com o desemprego.
"Quando for dispensado vou para taxista", assegurou um dos operários à agência Lusa, depois de a administração da multinacional ter confirmado que vai encerrar a fábrica, decisão que justificou com as "várias tentativas sem sucesso" para vender "linhas de produto-não-chave" produzidas na unidade.
O operário, que preferiu o anonimato, manifestou-se conformado com o anúncio do fecho da unidade fabril alentejana, durante o primeiro trimestre de 2009.
Visão idêntica foi transmitida por outros operários, não se mostrando surpreendidos com encerramento da unidade de produção, visto que têm vindo a ser "preparados e informados pela administração".
É o caso de Armando Louro, 50 anos de idade e 21 de "casa", que, apesar de não se mostrar "muito surpreendido", confessa alguma "preocupação", "Nesta área, o trabalho é escasso e a idade muitas vezes é um problema", alegou.
Joaquim Martins, outro dos operários e há 26 anos na empresa, lamentou que nenhuma das "hipóteses de salvação" se tenha concretizado, alegando que "se sabia que havia alguns compradores interessados".
Quanto à situação de desemprego, desabafa que "é a vida".
Enquanto operário e delegado sindical da CGTP, Francisco Godinho, 46 anos, advertiu para as várias implicações sociais que representa o encerramento da fábrica, porque "só a folha mensal de remunerações da empresa representa 500.000 euros para a economia local".
"Há também situações em que mulher e marido vão para o desemprego", avisou.
Francisco Godinho adiantou, contudo, que há a possibilidade de alguns trabalhadores serem reintegrados em outras unidades da Delphi, designadamente na de Castelo Branco, mas salientou que a hipótese "ainda vai ser alvo de negociação".
Em comunicado enviado à agência Lusa, a direcção da Delphi em Portugal diz estar consciente do "impacto que a implementação desta decisão terá nos seus stakeholders [todos os que têm interesses na empresa], incluindo empregados, clientes, fornecedores e comunidades".
A empresa, que é a maior unidade industrial do distrito de Portalegre, diz ter comunicado hoje a decisão do fecho da fábrica de Ponte de Sor aos trabalhadores e seus representantes e às "entidades oficiais".
Além disso, acrescenta o comunicado, o grupo norte-americano garante também ter "iniciado o diálogo" com os representantes dos trabalhadores para "rapidamente ser atingido um acordo que minimize o impacto social" do fecho da unidade.
A fábrica de Ponte de Sor emprega 439 pessoas [efectivos] e fabrica apoios, mecanismos para portas de correr automatizadas e sistema de protecção de ocupantes para vários modelos de veículos automóveis.
Um dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Química, Farmacêutica, Petróleo e Gás (Sinquifa), Francisco Godinho, assegurou hoje à Lusa que a multinacional norte-americana deverá encerrar a unidade de Ponte de Sor no "primeiro trimestre de 2009", arrastando para o desemprego mais de 500 trabalhadores [contando com os cerca de 80 a contrato].
"No último trimestre deste ano, começam já a sair os primeiros trabalhadores do quadro", acrescentou Francisco Godinho.
O dirigente sindical referiu que a empresa vai iniciar "segunda-feira" os contactos com os trabalhadores e sindicatos para "discutir as indemnizações".
Os cerca de oitenta operários a contrato, de acordo com os sindicatos, serão os "primeiros a sair, já no próximo Verão".
A administração da Delphi, frisou Francisco Godinho, sustentou a decisão de encerramento por os produtos fabricados na unidade de Ponte de Sor terem "deixado de ser estratégicos".
Segundo o Sinquifa, a empresa, que "vive graves problemas financeiros nos Estados Unidos da América", anunciou também que "a produção de airbags em Ponte de Sor irá ser deslocalizada para a Hungria".
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