Pão de Açucar saiu há 12 anos de Portugal, onde chegou a liderar mercado e a protagonizar conflito

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 17 Mar (Lusa) - O grupo brasileiro Pão de Açúcar, fundado pelo emigrante português Valentim dos Santos Diniz, que morreu no domingo, saiu em 1996 de Portugal, onde chegou a liderar o mercado e a protagonizar um conflito entre Lisboa e Brasília.

Os últimos activos portugueses da cadeia de distribuição brasileira foram vendidos em 1996 ao grupo francês Auchan, marcando a saída definitiva de Portugal.

Antes, na década de 70, o grupo fundado pelo português emigrado no Brasil, tinha aberto em Lisboa o primeiro moderno supermercado, na avenida Estados Unidos da América, de uma rede que 15 anos depois atingia as 49 lojas.

A empresa participada pelo grupo Pão de Açúcar, denominada SUPA - Companhia Portuguesa de Supermercados, sofreu ocupações em 1974 e elevados prejuízos, acabando por ser intervencionada em Abril de 1975 pelo Estado português, que passou a deter o controlo accionista, em conjunto, com os brasileiros.

As ocupações de propriedades brasileiras em Portugal, entre elas a cadeia de supermercados Pão de Açucar, motivou um contencioso entre Lisboa e Brasília, que acabou por ser regulado no âmbito do Grupo de Contacto Portugal-Brasil para os direitos relacionados com os investimentos recíprocos e levou a um contrato de viabilização com o Estado português.

No final dos anos 80, com o fim do contrato de viabilização do Pão de Açucar, o grupo negociou a compra da posição de 30 por cento que o IPE (Investimentos e Participações do Estado) detinha no capital da SUPA, o que lhe permitiu passar a controlar a totalidade da empresa.

Nesta altura, o Pão de Açúcar negoceia também com o grupo Jerónimo Martins a venda de 15 das suas lojas, levando à transferência de 1.500 empregados para os supermercados Pinngo Doce e para uma empresa comum, a Sobecopa.

A operação permitiu ao Pão de Açúcar pagar as dívidas à banca, reformular a estratégia, e resolver os problemas com que se debatia desde a desintervenção do Estado em 1977.

Em 1985, o grupo atingia as 49 unidades de venda, entre supermercados e hipermercados (seis dos quais integrados em centros comerciais) e lojas discount, empregava três mil funcionários e contabilizava vendas de 120 milhões de dólares.

A venda de 15 lojas de média dimensão, em 1987, veio ao encontro da estratégia definida pelo Pão de Açúcar no sentido de se especializar nos hipermercados e nas lojas de "discount" (baixos preços), o que lhe permitiu resolver os problemas financeiros que se arrastavam desde a assinatura do contrato de viabilização, em 1979.

O Pão de Açúcar alcança em 1987 o "Top" do "ranking" nacional dos supermercados, liderando o sector da distribuição durante vários anos, seguido da cadeia Modelo/Invictos (grupo Sonae), Pingo Doce (grupo Jerónimo Martins) e Supermercados Inô.

O grupo brasileiro marca ainda o sector da distribuição em Portugal por ter sido pioneiro, em meados dos anos 90, no lançamento de um cartão de crédito, o "Jumbo Mais" e antes, disso, do lançamento da primeira loja de conveniência.

O empresário português radicado no Brasil Valentim dos Santos Diniz, fundador dos supermercados Pão de Açúcar, morreu domingo em São Paulo aos 94 anos, vítima de falência múltipla de órgãos.

Natural de Pomares do Jarmelo (Guarda), onde nasceu a 18 de Agosto de 1913, Valentim dos Santos Diniz emigrou para o Brasil em 1929, com 16 anos.

Em 1948, abriu em São Paulo a doçaria Pão de Açúcar, que dez anos depois deu origem ao grupo com o mesmo nome.

O grupo Pão de Açúcar conta actualmente com 576 supermercados em 14 dos 27 estados brasileiros, sendo a segunda maior cadeia no país, atrás do grupo francês Carrefour.

Em 2007, o grupo Pão de Açúcar facturou 210 milhões de reais (78,6 milhões de euros).

Valentim dos Santos Diniz presidiu ao grupo até 1995, quando foi substituído pelo filho Abílio, e era presidente honorário do Conselho de Administração do Pão de Açúcar desde 2003.

JS

Lusa/Fim


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