Parceiros sociais preocupados com aumento dos despedimentos coletivos na indústria
Os parceiros sociais ouvidos pela Lusa manifestaram-se preocupados com o aumento do número de despedimentos coletivos no setor da indústria, referindo temer que se agravem nos próximos meses e pedindo uma resposta robusta.
O número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos em julho -- 781 -- foi o mais elevado da última década nesse mês, com exceção do ano pandémico de 2020, segundo dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).
À Lusa, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) afirma que os dados mensais "requerem uma leitura prudente", dado que "poderão ainda suscitar medidas posteriores que afastarão ou aproximarão o número de trabalhadores abrangidos do número de trabalhadores efetivamente despedidos e contrapõe com o número de despedimentos coletivos comunicados pelas empresas que, no segundo trimestre deste ano alcançou os 127, isto é, "próximo dos 125 do 2.º trimestre de 2024".
"Ou seja, não nos parece que haja, para já, motivos de preocupação", aponta João Vieira Lopes, admitindo, no entanto, que, "nalgumas regiões", o setor do comércio "começa a ressentir-se da situação em outros setores, nomeadamente setores industriais que estão em processos de reestruturação por múltiplos motivos o que naturalmente se reflete no consumo", acrescenta.
Quanto ao futuro, o presidente da CCP admite que os impactos "podem ser mais significativos", devido à "entrada de novos grandes operadores a trabalharem quer no formato físico, quer no online" e aponta que ainda falta "medir o efetivo impacto" das tarifas impostas pelos EUA, "que acabarão por refletir ainda que indiretamente no setor do comércio".
Também a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP), veem o setor da indústria como o de maior fonte de preocupação.
"De facto, a situação na indústria transformadora preocupa-nos, devido à tendência de contração da produção nos últimos meses, acompanhando uma evolução similar na Europa e, em particular, na Alemanha e em França. Países que são, depois de Espanha, os principais destinos das nossas exportações", adianta fonte oficial da confederação liderada por Armindo Monteiro, à Lusa.
Não obstante, a CIP realça que a "resiliência" das empresas portuguesas tem evitado que "as dificuldades da atividade industrial sejam totalmente refletidas no mercado do trabalho", onde se tem assistido "desde o início do ano, a alguma recuperação do emprego nas indústrias transformadoras".
Ainda assim, a confederação alerta para os "sinais" dados por "determinados setores industriais", sublinhando que "fazem temer que o aumento de despedimentos coletivos se agrave nos próximos meses", na sequência de "muitas empresas estarem a atingir o limite da sua resistência, sob o efeito acumulado de aumentos de custos e de uma conjuntura externa particularmente adversa".
Por sua vez, a CGTP destaca que "42% dos trabalhadores despedidos por via de despedimento coletivo [nos primeiros sete meses do ano] provinha das indústrias transformadoras" e sublinha que o número de trabalhadores alvo de despedimentos "são aspetos que não podem ser negligenciados e exigem uma mais robusta resposta", considerando ainda que o anteprojeto do Governo de revisão da legislação laboral "agravam esta situação, ao fomentar a precariedade dos vínculos laborais".
À margem do Fórum Social do Porto, que decorreu na quinta e sexta-feira, o secretário-geral da CGTP indicou ainda que "nos setores de indústria, normalmente de vestuário e calçado" há trabalhadores a serem despedidos e "amanhã estão noutro local de trabalho a trabalhar para o mesmo patrão", pedindo que se denunciem estas situações.
A par da CGTP, também a União Geral de Trabalhadores (UGT) argumenta que o aumento do número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos deve " deverá levar o Governo a olhar muito bem" para as alterações que pretende fazer à lei laboral.
"Nós precisamos é de combate à precariedade. Precisamos é de garantia de segurança no emprego. Não podemos ter despedimentos `a la carte`", afirmou Carlos Silva, ex-secretário-geral da UGT e atualmente representante da central sindical no Comité Económico e Social Europeu, à margem do Fórum Social.
Nos últimos meses têm sido noticiados em várias empresas ligadas ao setor da indústria. Foi o caso da Coindu, indústria de componentes têxteis para o setor automóvel, da fábrica da japonesa Yazaki Saltano em Ovar ou da fábrica da Tupperware.