Partidos gregos reúnem-se para avalizar acordo da Troika

por RTP
Uma bandeira rasgada da UE ondula ao lado de uma desgastada bandeira grega tendo como pano de fundo um céu carregado de núvens negras. Uma poderosa metáfora da atual situação europeia Orestis Panagiotou,EPA

Os líderes dos três partidos que apoiam o governo de Lucas Papademos reúnem-se esta tarde com o primeiro ministro para avalizar os termos do plano de resgate à Grécia. O texto final do acordo tem 50 páginas e foi finalizado esta madrugada numa derradeira reunião entre os governantes gregos e a troika. Os sucessivos adiamentos em Atenas provocaram impaciência nas capitais europeias e em particular na Alemanha, que é o principal contribuinte para o fundo do resgate.

A reunião chegou a estar prevista para o final da manhã, mas foi adiada por duas horas, para que os participantes tenham mais tempo de estudar o documento.

Uma fonte do partido Nova Democracia, confirmou que o texto do acordo foi esta manhã entregue às três forças políticas. O facto de o documento ainda não estar pronto ontem à noite foi uma das razões apontadas para o adiamento da reunião que estava prevista entre os líderes dos três partidos e o primeiro-ministro.
Derradeiros pormenores do acordo acrescentados "no último momento"
A fonte, citada pela France Press, disse que o texto, cujos derradeiros pormenores “só foram acrescentados no último momento”, define “as grandes linhas das novas medidas” que a UE e o FMI querem que a Grécia adopte, para desbloquear o novo empréstimo decidido pela Zona Euro em outubro e que permitirá ao país evitar a bancarrota já em meados de março.

De acordo com as informações que têm vindo a circular nos últimos dias, o acordo prevê um corte de cerca de 20 por cento no salário mínimo e cortes nas pensões. Inclui também a supressão de 15.000 postos de trabalho na função pública.

Cabe agora aos líderes partidários avalizar os termos do acordo entre o governo helénico e a troika, após o que o documento será enviado ao parlamento de Atenas para ser ratificado. Um processo que, segundo os média gregos poderá desenrolar-se até ao final da semana.
Acordo com os privados pode estar próximo
Terça-feira à noite surgiram também notícias de que pode estar próximo um acordo, nas negociações separadas que o governo de Atenas está a ter com os credores privados.

Os representantes do Instituto da Finança Internacional, que estão a liderar as negociações em representação dos bancos, disseram que a reunião de ontem “foi construtiva” e que em breve, Papademos vai informar os restantes países da Zona Euro acerca da proposta de acordo.

Os bancos, fundos de investimento e privados que detém dívida grega deverão aceitar trocar as obrigações que atualmente têm em seu poder por outras novas, que valerão metade do valor facial das antigas e terão prazos de pagamento mais longos e juros mais baixos. Um processo em que, tudo somado, haverá um “perdão” de mais de 70 por cento do atual valor do montante em dívida.
BCE pode participar no perdão da dívida
Paralelamente, a Dow Jones informava ontem que o Banco Central Europeu terá abandonado a sua recusa de participar no “perdão” da dívida imposta aos credores privados da Grécia, e que a instituição liderada por Mario Draghi estará agora disposta a encaixar perdas na carteira de obrigações gregas que têm em seu poder.

Algumas fontes indicam que a reunião de ministros das Finanças da Zona Euro poderá ter lugar já na quinta-feira em Bruxelas, dependendo dos progressos alcançados em Atenas.

Poderemos assim estar prestes a assistir ao ato final de mais este capítulo da tragédia grega que se tem vindo a desenrolar em Atenas, com sucessivos adiamentos nas negociações acompanhados de protestos nas ruas de uma greve geral que ontem paralisou parte do país.

Os credores da Grécia, nomeadamente União Europeia e FMI querem ter garantias de que o acordo agora alcançado será respeitado, qualquer que seja o partido a sair vencedor das próximas eleições. Só assim estarão dispostos a desembolsar o valor do resgate, que se estima será ainda mais elevado do que os 130 mil milhões de euros que tinham sido previstos em outubro.
Líderes partidários arriscam ira do eleitorado
No entanto, ainda não é certo que todos os líderes partidários gregos digam sim a uma série de medidas que prometem baixar ainda mais o já degradado nível de vida da população e ter custos eleitorais pesados para as forças políticas que o apoiarem.

Georgio Papandreou do Partido Socialista (PASOK) Antónis Samaras do conservador Nova Democracia e Georges Karatzaféris, do partido de extrema direita LAOS sabem que podem ter de ir às urnas já em Abril.

Os socialistas do ex-primeiro-ministro Papandereou viram o seu eleitorado fortemente penalizado pelas medidas de austeridade e parecem ser os que mais têm a temer nas próximas eleições. As sondagens mostram que o PASOK desceu para oito por cento dos 44 por cento que tinha em 2009, quando ganhou as últimas legislativas gregas.
Sondagens penalizam partidos da coligação

As opiniões recolhidas colocam na dianteira o Nova Democracia, com 31 por cento das intenções de voto, mas demonstram também uma rejeição crescente dos eleitores gregos em relação aos partidos tradicionais. O apoio à Esquerda democrática, que se recusou a integrar a coligação, subiu para 18 por cento.

O ressentimento dos gregos parece também dirigir-se contra a Alemanha, que é vista como o principal instigador das medidas de austeridade.

Apesar das garantias dadas ontem por Angela Merkel, de que pretende manter a Grécia no Euro, pelo menos uma bandeira alemã foi queimada, durante as manifestações de ontem em frente do parlamento grego, juntamente com uma bandeira nazi…


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