PCP acusa Governo de "insistir na ilusão" e prevê aumento da contestação social

Lisboa, 06 Jan (Lusa) - O dirigente do PCP Vasco Cardoso acusou hoje o Governo de "insistir na ilusão" de que o país está no bom caminho, e afirmou não ter dúvidas de que a contestação social vai aumentar.

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

"O Governo insiste numa ilusão de que o país está no rumo certo e foge à realidade do país. (...) As declarações do ministro das Finanças traduzem a ideia de que vamos assistir ao agravamento das condições sociais do país", afirmou.

O ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos, afirmou hoje, em conferência de imprensa no intervalo de uma reunião informal do conselho de ministros, que o Governo irá manter as linhas de rumo que seguiu em 2007: rigor orçamental, apoio ao crescimento da economia e a qualificação dos portugueses.

Teixeira dos Santos assegurou que mais nenhuma medida será acrescentada às já tomadas para assegurar a melhoria das contas públicas, afastando a perspectiva de "novos sacríficios".

O ano de "2007 foi decisivo para o défice", sublinhou o responsável das Finanças, acrescentando que, segundo os dados provisórios de que dispõe, o crescimento da economia terá sido superior à previsão de 1,8 por cento avançada pelo governo.

Vasco Cardoso considerou que, "na semana em que são conhecidos aumentos dos preços dos bens essenciais" e em que é anunciado que "um aumento de 30 centimos por dia para as pensões", as "declarações do ministro chocam os portugueses".

"O país está cansado da mesma política e exige outro rumo que valorize os salários e as pensões, que saia do espartilho do défice das contas públicas", disse.

Para aquele dirigente comunista, "não há dúvidas de que o rumo do governo levará ao aumento do protesto dos trabalhadores e da população em geral".

Falando num intervalo do Conselho de Ministros informal, Teixeira dos Santos afastou hoje qualquer perspectiva de redução de impostos apesar de, em 2007, se ter atingido o objectivo do défice, que será inferior aos 3 por cento do PIB.

"Não estamos ainda numa situação orçamental que nos permita qualquer redução de impostos, a isso obriga o rigor financeiro", afirmou o ministro ao ser questionado sobre esta possibilidade face à melhoria na frente das finanças públicas.

Em relação à questão do Banco de Portugal (BP), Caixa geral de Depósitos (CGD) e Banco Comercial Português (BCP), o dirigente comunista afirmou que a mudança da administração do maior banco público para o maior privado "revela uma profunda promiscuidade entre o que é o poder e a coisa pública e os interesses do grande capital".

Defendendo que o BP "deve investigar até às últimas consequências" o apuramento de responsabilidades, Vasco Cardoso considerou uma "absoluta inoportunidade" a mudança da administração da CGD para o BCP.

"Trata-se de uma absoluta inoportunidade, e mesmo contrário àquilo que são os interesses por parte do país, que a administração da CGD, o maior banco público nacional e com um papel importantíssimo no sistema financeiro, se passe de armas e bagagens para a administração do seu principal concorrente num quadro em que, a nosso ver, não estão acautelados o interesse público e a própria estratégia da CGD", explicou.

Lembrando que a questão "não pode ser desligada da obscena acumulação de lucros que tem sido alcançada pelos bancos" em Portugal, Vasco Cardoso defendeu que tal acumulação resulta, "em larga medida, do empobrecimento progressivo de vastas camadas da população, em particular dos trabalhadores".

SF/JSD.

Lusa/Fim


PUB