Plano de manipulação das ações no banco é um "absurdo", diz Filipe Pinhal

Lisboa, 11 out (Lusa) - O ex-administrador do BCP Filipe Pinhal afirmou hoje em Tribunal que o alegado plano dos quatro arguidos para manipular o mercado "é um absurdo" porque seria impossível à administração impor ordens que mobilizariam mais de 100 funcionários.

Lusa /

Filipe Pinhal, que está a ser julgado juntamente com Jorge Jardim Gonçalves, Christopher de Beck e António Rodrigues pelos crimes de manipulação de mercado e falsificação de documentos entre 2002 e 2007, garantiu que, mesmo com outros administradores, não seria possível impôr a criação de `offshores` com a intenção de valorizar os títulos do BCP e obter mais valias de forma ilegal, prejudicando o banco, porque "para levar a cabo este plano teriam de se mobilizar mais de 100 colaboradores do BCP".

O ex-administrador adiantou também que, pelos factos que são acusados, decorridos ao longo de dez anos, o alegado plano não seria exequível porque "muitas mudanças na estrutura do BCP e na própria administração" e para "instrumentalizar ordens em determinado sentido, estariam envolvidas mais de 300 pessoas".

E para exemplificar isso, Filipe Pinhal alertou para o facto de nenhuma testemunha em anteriores julgamentos ter dito que "recebeu ordens dos arguidos nesse sentido".

Em sua defesa, o antigo administrador do BCP sublinhou que o banco "não tinha marionetas" e era "constituído pelos banqueiros mais prestigiados do país".

Para Filipe Pinhal, os únicos crimes cometidos no meio deste processo foram o "roubo de documentos do banco, quebra de sigilo bancário e uma tomada do BCP", numa indireta à atuação do empresário Joe Berardo que tudo desencadeou quando entregou documentos à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e ao Banco de Portugal (BdP).

Relativamente à acusação do Ministério Público, o ex-administrador referiu que "calçou os sapatos que a CMVM e o BdP entregaram" num processo que "está inquinado" desde o início.

"A partir do momento em que alguém [a CMVM] determina que os arguidos estavam mancomunados para prejudicar o banco, tudo quanto está para diante está inquinado por este pressuposto", frisou.

Atacando o regulador do mercado de capitais, Filipe Pinhal acrescentou que "só por ignorância ou má fé da CMVM é que se fazem perguntas sobre a venda de ações em alta e compra de ações em baixa".

Em relação à alegada intenção dos quatro arguidos `esconderem` as 17 `offshore` em que não se conheciam os últimos beneficiários, Filipe Pinhal respondeu em tom irónico: "António Rodrigues queria esconder uma coisa e a melhor maneira foi perguntar aos serviços de quem eram os UBO (donos) destas 17 sociedades `offshore`. Não faz sentido".

Rogério Alves, advogado de António Rodrigues, disse recentemente que a estratégia da defesa é afirmar perante o tribunal que os quatro arguidos não tinham, à data, conhecimento das 17 `offshore` e que nunca conheceram os últimos beneficiários "por ser a realidade".

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