Preços ao consumidor voltam a cair em agosto na China
Os preços ao consumidor na China voltaram a cair em agosto, evidenciando persistentes pressões deflacionistas, enquanto uma descida mais moderada nos preços à saída da fábrica sugere um efeito da campanha de Pequim contra as guerras de preços.
O índice de preços no consumidor (IPC), principal indicador da inflação, recuou 0,4% em termos homólogos no mês passado, segundo dados divulgados hoje pelo Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) do país asiático.
O valor ficou abaixo das expectativas do mercado, depois de uma sondagem da agência financeira Wind prever uma queda de 0,2%. Em julho, o IPC permaneceu inalterado face ao mesmo mês de 2024.
A segunda maior economia mundial enfrenta há mais de dois anos pressões deflacionistas, com a fraca procura interna e o excesso de capacidade industrial a penalizarem os preços, enquanto a incerteza no comércio internacional dificulta o escoamento de produtos por parte dos fornecedores.
A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflete debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente perigoso, já que uma queda no preço dos ativos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias.
Outro dos efeitos é o de levar ao adiamento das decisões de consumo e investimento em resultado de expectativas de preços mais baixos no futuro, podendo criar uma espiral descendente de preços e procura difícil de inverter, afetando a economia por inteiro.
A queda dos preços começou em 2022, com a desvalorização do ativo mais importante na China: o imobiliário residencial. A queda no preço dos imóveis levou a uma quebra da confiança das famílias, resultando numa contração do consumo. Isto, aliado ao excesso de capacidade de produção do país veio fomentar uma guerra de preços entre fabricantes e retalhistas, suscitando uma espiral deflacionistas.
Pequim tomou, entretanto, medidas para pôr fim à guerra de preços. O Partido Comunista Chinês prometeu ainda, em julho passado, combater a "concorrência irracional" em diversos setores.
Segundo Dong Lijuan, estatístico do GNE, a queda do IPC resultou "principalmente da elevada base comparativa de há um ano" e de preços alimentares abaixo da média sazonal. "Por categoria, o principal fator foi a descida dos preços dos alimentos", afirmou, acrescentando que a inflação subjacente acelerou pelo quarto mês consecutivo, beneficiando do impacto contínuo das políticas de estímulo à procura interna.
Em agosto, os preços de bens de consumo caíram 1% face a igual período de 2024, enquanto os serviços subiram 0,6%, indicou o gabinete. Os preços dos alimentos recuaram 4,3%. Excluindo alimentos e energia, a inflação subjacente aumentou 0,9% em termos homólogos.
O índice de preços no produtor (IPP), que mede a evolução dos preços à saída da fábrica, caiu 2,9% em agosto, assinalando o 35º mês consecutivo de contração. O valor esteve em linha com a queda de 2,88% prevista pela Wind, mas representou uma melhoria face à descida de 3,6% registada em julho.
Segundo Dong, o abrandamento da queda refletiu-se na "melhoria contínua da concorrência no mercado interno, que ajudou a conter as descidas homólogas em setores específicos", sinalizando efeitos preliminares da campanha governamental contra a chamada "involução" - a concorrência feroz entre empresas que tem pressionado preços em vários setores.