Produtores de leite rejeitam descidas do preço pago ao produtor em 2026

A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) alertou hoje para necessidade de valorizar o leite português em 2026, rejeitando eventuais descidas do preço pago ao produtor, que atualmente já só quase cobre as despesas correntes.

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"Ao longo do ano, tanto em comunicados como em reuniões com responsáveis da indústria, da distribuição e do Governo, a Aprolep expressou de forma clara que esse preço `de sobrevivência` permitiu, regra geral, cobrir as despesas correntes, mas não gerou margem suficiente para investimentos indispensáveis, nomeadamente modernização das vacarias, automatização de ordenha e alimentação e melhorias no bem-estar animal e na sustentabilidade ambiental", sustenta a associação em comunicado.

De acordo com a Aprolep, ao longo do ano de 2025, a produção de leite em Portugal manteve-se estável, tanto em quantidade como nos preços pagos aos produtores.

"Começamos o ano com um preço médio de 45,8 cêntimos/kg (quilograma), o mais baixo entre os 27 Estados-membros da União Europeia, cerca de nove cêntimos abaixo da média comunitária e com uma diferença sempre significativa para Espanha, nosso país vizinho e parceiro do mercado ibérico que diretamente mais nos afeta", precisa.

Ainda assim, a associação destaca que, nas últimas semanas, os produtores de leite têm sido confrontados com notícias de descidas de preço registadas no mercado internacional de produtos lácteos e no preço ao produtor em países do norte da Europa, que "alegadamente justificariam alterações do preço do leite em Portugal".

Contudo, alerta, "é preciso ter presente que o preço no norte da Europa, ao longo dos últimos dois anos, foi muito superior aos dos produtores portugueses".

Adicionalmente, sendo o mercado interno ou ibérico o destino da maior parte do leite e produtos lácteos transformados em Portugal - e tendo sido, aliás, "com base nesse argumento que o preço em Portugal não acompanhou as subidas a nível europeu" - a associação adverte que "não faz agora sentido que os compradores usem essa justificação para impor uma descida".

"A Aprolep considera que a `estabilidade` adotada pelos compradores tem de valer em todos os momentos e não servir apenas para penalizar os produtores. Só assim será possível dar esperança às novas gerações e aos que resistem na atividade para manter a soberania alimentar nacional, reduzir a dependência de importações, proteger o emprego no meio rural e manter o território cultivado e livre de incêndios", enfatiza.

A associação defende ainda a necessidade de "apoios específicos para investimentos para responder às exigências dos consumidores em relação ao bem-estar animal e à sustentabilidade ambiental, bem como apoiar a instalação de jovens no setor".

É que, diz, em Portugal existem atualmente cerca de 3.300 produtores, dos quais 2.000 nos Açores e 1.300 no continente, um número cada vez menor e com uma média de idade cada vez mais avançada.

"É fundamental que indústria e distribuição assumam um compromisso para que o leite português continue a ser competitivo e sustentável", sustenta a Aprolep, defendendo que "assegurar um preço justo ao produtor não é um custo", mas "um investimento no futuro da agricultura e da soberania alimentar de Portugal".

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