Projeto de regadio do Baixo Mondego começou há 30 anos e só metade está concluído

Montemor-o-Velho, 25 mar (Lusa) - O projeto da obra de fomento hidroagrícola do Baixo Mondego iniciou-se há mais de 30 anos, mas atualmente só abrange cerca de metade dos 13 mil hectares de campos de cultivo na região.

Lusa /

Ouvido pela reportagem da Lusa, Pinto da Costa, produtor de arroz, olha para os seus terrenos e vê-se como que "numa fronteira entre dois países diferentes": a poente da estrada que liga o castro de Santa Eulália à povoação da Ereira não há obra de regadio, mas a nascente o regadio já existe.

"Foi exatamente aqui, há 13 anos, que as obras pararam. Esta fronteira significa que, por vontade de alguém, há agricultores muito penalizados", afirmou.

Onde a obra hidroagrícola não chega, as dificuldades são acrescidas, seja na necessidade de mais meios humanos e materiais, seja na "disparidade de condições" que não permitem "rentabilidades" idênticas, explicou.

"Na zona com obra, a situação é completamente pacífica, temos água à entrada dos terrenos. Na zona sem obra, temos de bombar a água duas vezes, primeiro para dentro de uma vala, para depois ser bombada outra vez [para os terrenos]", frisou Pinto da Costa.

Os problemas de drenagem afetam, também, agricultores vizinhos: "Tenho colegas em cotas mais baixas e, para nós podermos fazer a bombagem, eles ficam inundados. E gerir toda esta situação torna-se muito difícil", alegou.

Se o vale central do Mondego está praticamente todo coberto pela obra hidroagrícola, o mesmo já não sucede nos vales secundários - dos afluentes Pranto, Arunca e Ega - e na zona do rio de Foja e ribeira da Ançã.

O Pranto, em março, parece um imenso lago, onde não se vislumbram os limites dos terrenos, só água, a cerca de um mês da sementeira do arroz.

José Armindo, da Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo Mondego (ABOFHBM) lembrou à Lusa que o vale do Mondego está em obra há mais de 30 anos e que os agricultores esperam que no atual quadro comunitário possam entrar em execução os blocos da Margem Esquerda, Bolão e Maiorca / Foja.

"Com esses três blocos, esperamos ultrapassar os 50 por cento [de obra], mas ficam a faltar os vales secundários", notou.

Em declarações à Lusa, numa das margens dos campos de arroz do rio Pranto, apontou a falta de acessos aos campos - "as pessoas para chegar à sua propriedade tem de passar umas por cima das outras, não tem drenagem, a drenagem é coletiva, não tem rega e a água anda de uns terrenos para os outros".

Para José Armindo, fazer agricultura no Pranto "só se consegue pela carolice e esforço dos agricultores".

O presidente da associação apelou "aos políticos" para que olhem para as "especificidades" do Mondego que, frisou, "produz um dos melhores arroz do País, em condições bastante deficitárias. Mas queremos continuar a ser agricultores", garantiu.

"Desafiamos o poder político a mostrar-nos uma obra [de regadio] que seja utilizada como no Vale do Mondego a 100 por cento. No vale do Mondego não há um hectare sem estar a produzir, Queremos que as pessoas tenham condições, porque, de futuro não vai ser possível fazer agricultura nestas condições", avisou.

Na terça-feira, a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, visita a Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo Mondego, em Quinhendros, Montemor-o-Velho, e aí anunciará a "adjudicação da empreitada de construção das redes de redes de rega, viária e drenagem do Bloco de Rega 16 / Margem Esquerda", de acordo com nota do ministério.

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