Protestos da CNA são decididos por região e vão prolongar-se até problemas serem resolvidos

Lisboa, 24 Jun (Lusa) - Os protestos dos agricultores da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) são decididos a nível regional e vão prolongar-se até estarem resolvidos os seus problemas, agravados pela subida dos factores de produção, como o gasóleo.

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Em declarações à agência Lusa, Roberto Miléu, dirigente da CNA, explicou que os protestos regionais, que se iniciaram na semana passada em Setúbal, com uma marcha lenta de tractores e alfaias, e vão prosseguir na quarta-feira em Estarreja, podem ter várias formas e não têm data marcada para terminar.

"A direcção da CNA, onde estão representadas todas as regiões, é que decide a realização e o tipo de protestos", depois de proposta das associações ou estruturas dos agricultores em cada local, explicou Roberto Miléu.

Por isso, não é possível adiantar quantas mais manifestações de desagrado vão ter lugar e onde, além do protesto de Estarreja, na quarta-feira, de Braga, na quinta-feira e de Chaves, ainda sem data marcada.

O objectivo dos agricultores da CNA é que "todos os portugueses, principalmente aqueles que estão nos meios urbanos, tomem conhecimento da situação da agricultura em Portugal", com destaque para a familiar.

Por outro lado, a CNA quer chamar a atenção dos organismos do Estado para as dificuldades cada vez mais profundas que muitos agricultores enfrentam com a subida acentuada dos factores de produção, como o gasóleo, mas também os adubos, sementes e rações, enquanto os preços dos produtos agrícolas (no produtor) se mantêm ou chegam mesmo a descer, como acontece na carne de bovino ou nos ovinos.

Para enfrentar a crise, a CNA já pediu ajuda do Governo e apresentou um "caderno de reclamações" a 13 de Junho, em Coimbra, aquando da visita do primeiro-ministro a esta cidade.

Entre as medidas propostas pela CNA estão a prática de melhores preços na compra aos agricultores, o controlo do preço dos factores de produção, com o aumento da ajuda no gasóleo agrícola, ou tratamento especial para a agricultura familiar na Segurança Social, como acontece em Espanha.

Roberto Miléu apontou ainda a necessidade de o Governo pagar as dívidas à lavoura e às organizações agrícolas e de disponibilizar "de forma eficaz e o mais rápido possível" os programas comunitários para o sector.

Até agora, a CNA não obteve resposta do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas às suas reclamações.

A Confederação já pediu audiências aos grupos parlamentares da Assembleia da República.

Na segunda-feira, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) também entregou ao primeiro-ministro e ao ministro da Agricultura um caderno reivindicativo com 10 medidas igualmente com o objectivo de ajudar o sector a ultrapassar a situação de crise, agravada pela subida acentuada do preço dos combustíveis.

Embora tenha salientado a disponibilidade para negociar com o governo as suas propostas, o presidente da CAP, João Machado, afirmou que iria esperar até final da semana, e o passo seguinte dependia da postura do ministro Jaime Silva, não afastando a possibilidade de optar por realizar protestos.

Já hoje o diálogo entre as confederações representativas dos agricultores e o ministro da Agricultura teve mais um episódio quando, na entrada para o segundo dia da reunião do conselho de ministros da Agricultura da União Europeia, Jaime Silva acusou representantes de agricultores de ligações a interesses político-partidários ao defenderem que os problemas se resolvem com a atribuição de subsídios.

"Normalmente eu não associo os representantes, quer da CNA quer da CAP a estruturas políticas, mas é um facto que alguns dirigentes da CNA estão na extrema-esquerda e alguns da CAP na direita mais conservadora em Portugal, que pensam que os problemas se resolvem com mais subsídios", disse o ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.

A CNA já disse está "revoltada" com as declarações do ministro Jaime Silva, e um dos seus dirigentes pediu mesmo a demissão do ministro, enquanto a direcção da CAP está reunida para analisar as declarações que considera "graves".


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