Quebra no PIB e corte de rating agravam diferencial da dívida portuguesa face à alemã

Lisboa, 22 Fev (Lusa) - O custo da dívida pública portuguesa face à alemã agravou-se em 50 pontos base desde o início do ano, penalizado pelo corte do rating da república portuguesa e após a divulgação do crescimento económico do quarto trimestre.

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A 10 de Janeiro, o spread (diferencial) das obrigações do Tesouro português para os títulos de dívida pública alemã a 10 anos encontrava-se nos 99 pontos base (ver tabela), segundo dados recolhidos pela Lusa na base de dados da agência de informação financeira Bloomberg.

Esse valor subiu para 159 pontos base, a 22 de Janeiro, um dia depois da agência de notação financeira Standard & Poor`s ter cortado o `rating` da República Portuguesa.

Nos dias a seguir, corrigiu em baixa. Na véspera do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat anunciarem os dados do Produto Interno Bruto português do quarto trimestre, esse spread estava nos 129 pontos base (a 12 de Fevereiro).

A 13 de Fevereiro soube-se que a economia portuguesa tinha contraído 2,0 por cento no quarto trimestre de 2008, após uma queda de 0,1 por cento no trimestre anterior, confirmando a recessão técnica.

Os números saíram muito piores do que o esperado, já que os analistas estavam a apontar para uma contracção homóloga de um por cento.

Lara Wemans, analista de dívida pública do BPI, reconhece que os spreads se agravaram após o corte do rating e os dados do PIB, notando que durante o dia 19 de Fevereiro o spread de Portugal face à Alemanha atingiu mesmo um máximo desde a criação da Zona Euro, em 1999, ao tocar nos 164 pontos base.

Actualmente, o mercado está muito mais atento, além do rating, à situação macroeconómica e aos desequilíbrios estruturais dos países, referiu Lara Wemans.

Países com défices externos elevados ou aumentos da dívida pública, como sejam a Espanha e a Irlanda, têm visto os seus spreads aumentarem, notou a mesma analista.

O spread espanhol face à Alemanha subiu de 82 para 119 pontos base entre 10 de Janeiro e 19 de Fevereiro. O da Irlanda subiu 100 pontos base, para 242 pontos base, e o da Grécia agravou-se 40 pontos base, para 266 pontos base.

A Espanha e a Grécia também viram o seu rating cortado por parte da Standard & Poor`s em Janeiro.

Outro especialista de dívida pública contactado pela Lusa que pediu o anonimato disse que o mercado reagiu ao corte do rating, embora os spreads estivessem já a descontar antes o aumento do risco.

"O mercado tem estado muito defensivo quanto ao risco soberano do Sul da Europa", notou o mesmo especialista, lembrando que "as notícias que têm saído são confirmações de que os cenários macroeconómicos para esses países são muito difíceis".

Para Lara Wemans, "é normal que os spreads [da dívida portuguesa] se mantenham elevados nos próximos meses", à volta dos 150 pontos base, numa altura em que os mercados estão "mais atentos a todos os pormenores".

O outro analista ouvido pela Lusa também não descarta essa possibilidade: "Acho que a dado momento teremos que inverter a tendência de agravamento dos spreads, mas no caminho, a situação pode piorar".


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