Ramos Horta denuncia campanha contra Caixa Geral de Depósitos em Timor-Leste
O papel da Caixa Geral de Depósitos em Timor-Leste foi destacado pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, José Ramos Horta, que em declarações à Agência Lusa disse que as críticas provêm de sectores anti-Portugal.
"Tem havido algumas maledicências vindas de certos sectores anti-Portugal, de certos elementos que no passado defendiam a Indonésia ou a autonomia de Timor-Leste dentro da Indonésia", salientou.
O governante destacou a este propósito a secção de cartas do leitor de um jornal diário timorense, em que um alegado cliente da sucursal de Timor da CGD conseguiu ao longo de cinco dias que fosse publicada uma missiva em que se regozijava por ter optado em colocar os seus depósitos numa instituição concorrente, o banco Mandiri, de capitais indonésios.
"Esse cliente nunca teve conta na CGD, como o demonstrou uma investigação do próprio banco, o que me leva a crer que se tratou de uma invenção de cartas, no âmbito de uma campanha que passou pelo parlamento e também tem defensores no meio diplomático e nas Nações Unidas", acrescentou Ramos Horta.
"A situação é tão absurda quando se sabe que os juros da CGD são muito melhores que os do Mandiri", acrescentou.
Quanto às críticas que ouviu no parlamento, o chefe da diplomacia timorense considera que não foi intenção dos deputados atacarem a instituição CGD, mas os funcionários corruptos.
Essas críticas, recorrentes no parlamento timorense, assentam invariavelmente na alegada corrupção que funcionários do banco praticam para desbloquearem a concessão de créditos bancários.
João Correia Pinto, director-geral da CGD em Timor-Leste, disse à Lusa que os que alegam a existência de corrupção entre os funcionários, devem apresentar as correspondentes provas para se agir de imediato em conformidade.
Ramos Horta diz que não ficaria surpreendido se as alegações de corrupção entre os funcionários fossem confirmadas.
"Estava no parlamento quando ouvi essas alegações. E essas alegações devem ser provadas, para que a CGD possa accionar processos disciplinares. Não me surpreenderia que venham a ser comprovadas, porque infelizmente tem havido casos noutras instituições, incluindo a nível do Estado, como a alfândega, em que funcionários tentam sacar algum dinheiro".
O ministro timorense dá como exemplo de corrupção a nível das instituições do Estado o que se passou recentemente com o processo de registo de cidadãos estrangeiros, e que motivou o que caracterizou a "intervenção zangada" do primeiro-ministro Mari Alkatiri.
"No caso do registo de cidadãos estrangeiros, alguém lembrou- se que o chefe de suco (aldeia), sem ser eleito e sem competência, tinha que passar um atestado de residência aos estrangeiros, a quem cobrava entre 10 e 50 dólares. Felizmente que isso acabou depois da intervenção zangada do primeiro-ministro", disse.
O papel da CGD na concessão de créditos em Timor-Leste, que totalizam presentemente mais de 92 milhões de dólares, a que correspondem 11.147 operações de crédito, é amplamente enaltecido por Ramos Horta, que considera ser essa intervenção a nível do mercado a garantia de sobrevivência de muitas famílias timorenses.
"Se não fossem os créditos da CGD, para táxis e "microletes" (pequenos autocarros) não haveria transportes públicos no país. A situação social seria muito mais grave, com milhares de pessoas a não poderem deslocar-se. Os pequenos agricultores não conseguiriam vir a Díli colocar os seus produtos, e os comerciantes também não conseguiriam ir à fronteira vender e comprar os seus produtos", afiançou.
"Portanto, há uma verdadeira idiotice da parte daqueles que criticam o papel da CGD" em Timor-Leste, sintetizou.
Por outro lado, Ramos Horta destacou ainda que os créditos servem para financiar a constituição de pequenas empresas e projectos de investimentos no sector agrícola, pecuário e para a construção de casas.
"Sete mil créditos foram para a construção de casas, o que melhorou imenso as condições de vida dos timorenses. Cada casa corresponde a uma família, que compreende entre cinco e 10 pessoas", vincou.
"A CGD tem sido aqui em Timor-Leste, desde 1999, uma instituição que quase se pode dizer não é comercial, mas sim uma instituição social. Acho que tem aqui um papel social extremamente importante", acrescentou.
No passado dia 09, num seminário realizado na capital timorense sobre o papel do micro-crédito no país, o director-geral da CGD salientou que dificilmente os investimentos que o banco está a fazer em Timor-Leste serão recuperados nos próximos 20 anos.
João Correia Pinto recordou na ocasião que além das operações de crédito, a CGD apoia múltiplas iniciativas de âmbito social, cultural e desportivo, e assegura o acesso a postos de Internet gratuitos e de uma base de dados a estudantes e quadros médios e superiores.
Presente em Timor desde 1912, a CGD apenas interrompeu a sua actividade bancária em 1975, com a invasão indonésia e consequente ocupação, que se prolongou por 24 anos.
EL.
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