Redução salarial no privado pode vir a ser necessária, mas depende de cada empresa e setor
Lisboa, 28 nov (Lusa) - Uma redução salarial em termos agregados pode vir a ser necessária no setor privado em Portugal, consideram os economistas da OCDE, mas essa opção teria de ser avaliada dentro de cada empresa e dependendo das especificidades dos setores onde operam.
Em entrevista à Agência Lusa a partir de Paris, os economistas David Haugh e Álvaro Pina, responsáveis pela análise da economia portuguesa na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), comentaram a sugestão feita pela `troika` na última conferência de imprensa feita em Portugal, fazendo uma comparação de base com a Irlanda.
"Não antecipo um ajustamento de tal magnitude nem se tal seria possível ou desejável. Se olharmos para a Irlanda, vemos que a economia teve uma contração superior à que esperamos para Portugal este ano e no próximo. Não vimos quedas dramáticas nos salários do setor privado mas vimos quedas em termos agregados, com diferenças em alguns setores. Pode existir necessidade de isso acontecer em Portugal, mas isso teria também implicações a nível da legislação laboral, e se se revelar necessária uma mudança na lei, então é muito importante ter os parceiros sociais de acordo", afirmou Álvaro Pina.
No entanto, o economista sublinha que o fundamental é existir uma forte contenção salarial, tanto no setor privado como no público, e comentando os cortes dos subsídios de férias e de Natal no setor público lembra que apesar de ser um indicador para o setor privado, sublinha que quem compete internacionalmente são os privados.
"Recuperar competitividade é uma questão central, mas no final são os salários do setor privado e os custos que determinam a competitividade. Obviamente que a contenção salarial no setor público é importante para estabelecer um padrão para a economia, mas não é o setor público que exporta. É o setor privado que tem de competir internacionalmente e vender para fora", afirmou o economista.
"Na Irlanda houve alguma queda em termos agregados nos salários do setor privado, não muito grande, mas existiu. E isso consegue ser alcançado. No caso da Irlanda foi conseguido nalgumas empresas congelando salários, cortando variáveis como bónus ou o número de horas trabalhadas, e em algumas empresas em setores específicos houve mesmo uma queda na taxa do salário base. Isto, claro, é específico a cada setor e depende da situação de cada empresa", acrescentou o economista.
O economista considera que todas as hipóteses devem ser consideradas pelas empresas: "a necessidade de cortar salários, de congelar salários, de cortar variáveis ou subsídios, todas as opções devem ser avaliadas ao nível de cada empresa".
Sobre a chamada desvalorização fiscal - corte na taxa social única - que esteve em cima da mesa até ao orçamento mas não chegou a avançar por falta de margem fiscal para a compensar, os economistas consideram que esta pode ter ganhos no curto prazo em termos de emprego e competitividade, mas tem que ter a sua compensação e a forma como é calibrada é muito importante.
"É um ponto importante, porque tem de ser calibrada de forma a não colocar em risco as metas orçamentais, e é obviamente uma forma de promover o emprego. Esta poderia trazer benefícios à criação de emprego no curto prazo e também ganhos de competitividade porque faria decrescer os custos de trabalho não relacionados com salários, que são um dos principais fatores para calcular os custos unitários de trabalho", um dos principais indicadores para medir a competitividade, disse o economista português.
Nas previsões divulgadas hoje, a OCDE prevê que a economia portuguesa recue 1,6 por cento este ano e 3,2 por cento em 2012 e aponta para que a taxa de desemprego alcance os 13,8 por cento em 2012.