Reguladores atentos à quota de mercado ignoram a inovação defende Nobel da Economia
Os reguladores da Concorrência deveriam olhar para o grau de inovação que as fusões e aquisições de empresas vão gerar e "não apenas para a quota de mercado", defende Philippe Aghion, um dos três distinguidos com o Nobel da Economia.
Considerando que os organismos que regulam a Concorrência na Europa "são muito estáticos" na forma de avaliar as fusões e aquisições entre empresas, o economista francês entende que deveriam antes preocupar-se em saber se essas operações "inibem ou não a inovação".
"Deveriam deixar de olhar apenas para a quota de mercado e olhar antes para a inovação, em particular para a inovação verde", disse.
"E também deveriam ser mais tolerantes com a política industrial, sobretudo com a política industrial verde", acrescenta.
Dias antes de ser distinguido com o prémio Nobel da Economia, em conjunto com Peter Howitt e também com o historiador da economia Joel Mokyr, Philippe Aghion foi entrevistado, por vídeochamada, pelo presidente da Autoridade da Concorrência (AdC), Nuno Cunha Rodrigues, e pela administradora Ana Sofia Rodrigues.
A entrevista, a que a Lusa teve acesso, foi exibida durante a VII Conferência de Lisboa sobre Direito e Economia da Concorrência, a decorrer hoje e amanhã no Centro de Congressos de Lisboa.
Durante a entrevista, Philippe Aghion, galardoado em conjunto com Peter Howitt pela "teoria do crescimento sustentado através da destruição criativa", adianta que os europeus não aproveitaram as revoluções da tecnologia e da biotecnologia tão bem como os norte-americanos porque "não tinham as instituições adequadas para avançar em direção à inovação".
"A Europa não tem um ecossistema financeiro de capital de risco adequado à inovação", alerta.
Lamentando que a Europa não tenha "o equivalente à DARPA", a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA, para promover a inovação, o também professor universitário considera que ainda "é possível ter uma política industrial pró-concorrência".
"Podemos conciliar a política industrial com a política de concorrência. É o que fazem na China. É o que fazem nos EUA. Têm uma política industrial favorável à concorrência e nós precisamos de fazer o mesmo na Europa", afirma.
Para isso, é necessário existir "uma boa regulamentação. Mas não muitas regulamentações que sufoquem a concorrência".
"A política de concorrência na Europa baseia-se muito na quota de mercado. Olhamos apenas para a quota de mercado. Não analisamos se uma fusão ou aquisição irá ou não sufocar a entrada de futuros concorrentes" no mercado, concluiu.
Philippe Aghion é professor no Collège de France e no INSEAD, em Paris, e professor visitante na London School of Economics and Political Science (LSE), em Londres.
Ocupou também cargos académicos de relevo na University College London (UCL), na Universidade de Oxford na Grã-Bretanha, no MIT e na Universidade de Harvard, nos EUA.
Em França, foi um dos principais conselheiros económicos do Presidente Emmanuel Macron, na altura da sua primeira eleição.