REN diz que interligações com Espanha trouxeram benefícios de 3.200 ME desde 2021
A REN afirmou hoje no parlamento que as interligações elétricas com Espanha geraram benefícios estimados em 3,2 mil milhões de euros desde 2021, admitindo que uma maior integração poderia ter evitado o apagão ibérico ou alargá-lo à Europa.
"O facto de termos vindo a apreciar a existência de preços bastante competitivos, com uma grande capacidade de produção solar em Espanha nos últimos quatro anos, tem permitido ao sistema português ter benefícios numa metodologia muito preliminar que fizemos, que pode ser muito mais densificada, cerca de 3,2 mil milhões de euros", entre 2021 e 2024, disse o administrador executivo da REN, João Conceição, na audição do Grupo de Trabalho sobre o apagão de 28 de abril de 2025, na Comissão de Ambiente e Energia.
Segundo o responsável, Portugal dispõe atualmente de "quase 5.000 megawatts" de capacidade de interligação com Espanha, quando a ponta máxima de consumo ronda os 10.000 megawatts. "Temos interligações capazes de abastecer cerca de 50% da nossa ponta de consumo", afirmou.
João Conceição reconheceu que, neste caso, "as interligações funcionaram, entre aspas, contra o sistema português", ao arrastarem Portugal para um problema iniciado em Espanha, mas sublinhou que o balanço global é positivo.
"As interligações, para nós, têm muito mais vantagens do que riscos", afirmou.
O administrador salientou que os benefícios não são apenas económicos. "Não são só vantagens económicas e financeiras, são também vantagens técnicas", disse.
Os sistemas elétricos europeus "deviam investir mais para termos uma rede tão interligada quanto possível", defendeu João Conceição.
O responsável alertou que um maior grau de interligação poderia ter tido efeitos distintos no apagão de abril. "Ou permitia que o sistema europeu apoiasse Espanha com mais músculo e tentasse efetivamente estancar esta perda ou este colapso total do sistema espanhol, ou, pelo contrário, significaria que este problema se expandiria para a Europa", disse.
João Conceição recordou ainda que, em situações críticas anteriores, as interligações foram determinantes para garantir a segurança do abastecimento.
"No período de seca severa de 2022, se não fossem as interligações, provavelmente tínhamos de fazer deslastres controlados de consumo", afirmou.
Segundo o responsável, "naturalmente, o sistema espanhol é um sistema de muito maior dimensão e o facto de existirem interligações mais limitadas com o sistema francês inviabiliza algumas das questões que nós falamos".
O apagão na Península Ibérica em 28 de abril mostrou a importância de aumentar a resiliência da rede energética da União Europeia (UE), numa altura em que o território ibérico tem uma conectividade abaixo dos 3% com o resto da União.
O Governo português tem vindo a defender um aumento da interligação energética de Portugal com o resto da UE para 15% até 2030, através da construção de mais interligações.
O reforço das interligações energéticas entre Portugal e Espanha e a UE tem vindo a ser discutido há vários anos, mas devido ao ceticismo de França nunca avançou totalmente, apesar de ser importante para aumentar a segurança energética, reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, diminuir os custos e facilitar a transição para as energias renováveis.
A Comissão Europeia partilha a opinião de Portugal sobre a necessidade de construir mais interconexões energéticas na UE, nomeadamente entre a Península Ibérica e o resto do bloco, tendo avançado com um plano de ação enquanto tenta dialogar com França.
Recentemente, em 10 de dezembro, Bruxelas anunciou que escolheu como futuras `Autoestradas da energia`, que contarão com apoio da União Europeia, interligações elétricas dos Pirenéus com a Península Ibérica e um corredor de hidrogénio de Portugal à Alemanha.