Roland Berger defende taxa zero em créditos e pagamento de salários a PME e profissionais liberais

por Rosário Lira - RTP
Pedro Nunes - Reuters

A economia não vai entrar numa recessão profunda. Quando o estado de emergência passar, a economia global vai precisar de oito a 12 semanas para recuperar. Em junho já se vai assistir a um reinício da atividade económica. Portugal enquadra-se neste cenário, mas devia de ir mais fundo nas medidas a adotar: linhas de crédito com taxa zero e pagamento de salários às PME e trabalhadores liberais. A avaliação é feita pela Roland Berger, consultora financeira de origem alemã.

Para a pergunta sobre como é que o mundo vai sair da crise económica que se instalou na sequência da Covid-19, a consultora que trabalha diretamente com alguns Estados definiu três cenários possíveis: uma saída rápida; uma saída gradual e uma recessão profunda.

Face a estes cenários concluiu que a saída será lenta e gradual, ou seja, a economia global não vai entrar numa recessão profunda. Ainda assim os impactos são negativos.

Nas estimativas da Roland Berger, a China que tinha um crescimento do PIB de seis por cento não vai passar dos 2,7 por cento. A União Europeia pode registar um crescimento negativo entre os 4,5 e os 4,8 por cento. Os impactos maiores, segundo a Roland Berger vão ser sentidos nos Estados Unidos, que poderão chegar a menos 5,4 por cento, o que representa uma variação negativa de 7,1 por cento.

Portugal está alinhado com a União Europeia. Segundo António Bernardo, presidente executivo da Roland Berger para Portugal, América Latina, Angola e Moçambique, o país deverá sofrer um impacto negativo de 3,8 a 3,9 por cento, ligeiramente acima dos 3,7 previstos pelo Banco de Portugal.

António Bernardo afasta completamente cenários que apontam para quebras no PIB de sete a dez por cento e, em termos globais, considera que “o início de um ritmo mais sustentado de crescimento da economia vai acontecer entre oito a 12 semanas”.

A economia vai reanimar, garante, até porque “os empresários estão ansiosos e já a pensar no que podem ir fazendo” para relançar os seus negócios. Neste sentido, admite que o pós Covid-19 pode ser um período de consolidação em alguns sectores, com oportunidades de aquisições e fusões, “investimentos com responsabilidade”.Quanto a Portugal, a Roland Berger admite que o Governo tem estado bem mas podia reforçar algumas medidas.


“Portugal não está mal. O povo português quando tem um objetivo claro responde bem. Somos os latinos mais germânicos da Europa. Mais disciplinados”, refere António Bernardo, adiantando que em relação ao Governo e ao Presidente da República, no entendimento da consultora, “têm estado bem” e António Costa poderá mesmo “sair reforçado”.

As medidas estão em linha com as que têm sido postas em prática pela União Europeia e o dinheiro está a ser aplicado com objetivos certos e com “os pés assentes na terra”.

Contudo, António Bernardo considera que Portugal devia ir mais longe para reduzir os impactos na economia e manter o emprego. “Há espaço para reforçar as medidas”. Como? Eliminando o peso da burocracia que limita o chamado time to market, fundamental para as empresas e apostando mais no apoio financeiro.
Taxa zero
Segundo a Roland Berger, as linhas de crédito deviam ser disponibilizadas com taxa zero, garantidas pelo Estado, com um período de amortização longo e parte a fundo perdido. Por outro lado, o Estado devia injetar liquidez diretamente às empresas, em concreto PME e profissionais liberais, para pagamento de salários durante um ou dois meses. Segundo a Roland Berger, esta medida poderia ter um custo de entre cinco a dez mil milhões de euros.

Se Portugal conseguisse pôr em prática estas medidas, António Bernardo estima que o desemprego não chegaria aos dez por cento. Ainda assim, também estima que no pós-crise seja possível recuperar rapidamente.

A Roland Berger, que está a monitorizar as diferentes regiões do mundo em tempo real e a reunir diariamente para dar indicações específicas e por sectores aos seus clientes, considera que a União Europeia, depois da crise, vai sair reforçada, mas precisa de avançar com um grande plano de recuperação que passa necessariamente pela emissão de divida conjunta. António Bernardo prefere chamar-lhe “bonds solidários” e calcula que seja necessária uma emissão inicial de dois a três triliões de euros para pôr em prática esse instrumento financeiro com o risco Europa.

Portugal, sendo uma pequena economia aberta, vai recuperar em função do que for a recuperação dos outros. Ainda assim, se a trajetória de combate ao vírus continuar a ser feita, “em maio e junho já se vai assistir ao reinício da atividade económica”.

Quanto ao turismo, com um peso substancial no PIB português, a Roland Berger, que tem estado envolvida no projeto de criação da estratégia de turismo para Lisboa, considera que o mercado vai recuperar gradualmente porque “o nosso turismo tem um projeto de valor, assente sobretudo nos turistas europeus”.

A Roland Berger adianta que os impactos a nível mundial por setores vão ser sentidos a dois níveis: rentabilidade e liquidez.

Há sectores como o transporte aéreo e o retalho que vão sentir estes dois níveis de impacto. O fator liquidez vai ser sentido particularmente na área do automóvel, logística e do oil and gas.

A médio prazo, o setor financeiro poderá ter problemas de rentabilidade e no curto prazo construção vai ter problemas, mas no médio prazo recupera. A indústria pode também vir a ter pressões no curto prazo mas no pós crise vai ter muito potencial

Questionado sobre quem ganha com a crise, António Bernardo responde: “Ninguém está a ganhar. Estão a perder menos”.
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