Rússia ameaça cortar abastecimento de gás à Europa se Ocidente proibir importações de petróleo

por Inês Moreira Santos - RTP
Maxim Shemetov - Reuters

Os preços do petróleo podem ultrapassar os 300 dólares por barril e o fornecimento de gás à Europa pode ser cortado, se a União Europeia e os Estados Unidos decidirem punir a Rússia e suspender, ou reduzir, as importações de petróleo deste país. O aviso foi deixado pelo vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak.

“Lamentavelmente, vimos a declaração de políticos europeus sobre questões energéticas e apelos para reduzir o petróleo e o gás russos. As autoridades europeias estão, mais uma vez, a tentar transferir os problemas e fracassos da sua própria política energética dos últimos anos para a Rússia”, afirmou o vice-primeiro-ministro russo numa declaração à televisão estatal, recordando que uma das consequências “é o aumento nos preços da energia que estamos a testemunhar hoje”.

Os Estados Unidos vão começar a negociar com a Venezuela para ter alternativa aos combustíveis russos. A União Europeia, por sua vez, tem prometido arranjar forma de ser menos dependente a nível energético da Rússia. E agora, o Kremlin avisa que tem “todo o direito” a retaliar e punir o Ocidente, caso avancem as sanções à importação de petróleo russo.

“Além das acusações infundadas contra a Rússia sobre a crise energética na Europa e a proibição do Nord Stream 2, sabemos que temos todo o direito de tomar uma decisão ‘espelho’ e colocar um embargo ao gás transitado via Nord Stream 1, que está atualmente funcionar a 100 por cento da capacidade”
, alertou.

Embora admita que o Kremlin ainda não tomou essa decisão, Novak recordou “que uma rejeição do petróleo russo teria consequências catastróficas para o mercado global”.

"O aumento dos preços seria imprevisível. Seria de 300 dólares por barril, ou até mais”
, acrescentou.

Os preços do petróleo dispararam na segunda-feira para os níveis mais elevados desde 2008, depois de o Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ter dito que Washington e os aliados europeus estão a considerar proibir as importações de petróleo russo. E, recorde-se que, cerca de 40 por cento do gás e de 30 por cento do petróleo consumido pela UE é importado à Rússia e, não tendo alternativas “fáceis”, se o fornecimento russo for cortado a população europeia será a mais prejudicada.

Mas Novak deixou ainda outro aviso: “é impossível encontrar rapidamente um substituto para o petróleo russo no mercado europeu”.

“Levará anos e ainda será muito mais caro para os consumidores europeus. Em última análise, serão eles os mais prejudicados”.



Os políticos europeus devem, por isso, “preparar os seus cidadãos e consumidores sobre o que vão enfrentar, quando o custo da gasolina, da eletricidade e do aquecimento disparar”. Mas o governante russo lembrou que outros mercados também serão afetados, incluindo o norte-americano.

“Se desejam cortar o fornecimento de recursos energéticos da Rússia, vão em frente, estamos prontos para isso”. E repetiu: “as tentativas de iniciar a discussão de uma proibição de importação minam as bases do mercado, criam incerteza e causam danos consideráveis aos consumidores”.

O caminho da UE, para já, é apenas de reduzir a dependência da energia russa, e não de a proibir. Esta semana, os líderes dos 27 deverão assinar um acordo para eliminar gradualmente a dependência da Europa em relação ao gás, petróleo e carvão russos.

Os líderes europeus vão reunir-se em Versalhes, na quinta e sexta-feira, e estará em debate um projeto de declaração que deverá marcar um ponto de viragem na dependência europeia em relação à energia russa.

"Concordámos em eliminar gradualmente a nossa dependência das importações de gás, petróleo e carvão da Rússia", diz o projeto de declaração dos líderes, citado pela Reuters.
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