Setembro: Volkswagen, um escândalo alemão

A 21 de setembro as ações do grupo Volkswagen estavam a cair 19,6 por cento, o maior tombo em sete anos, depois de a construtora automóvel ter admitido que falseou as emissões de alguns modelos nos Estados Unidos. O grupo alemão é o dono das marcas Volkswagen, Seat, Skoda e Audi.

Na véspera, o presidente do grupo Volkswagen, Martin Winterkorn, lamentava “ter quebrado a confiança” dos seus clientes e do público em geral, depois das acusações das autoridades norte-americanas de ter falseado a emissão de poluição de alguns modelos.

Em causa estava um software utilizado pela Volkswagen, entre 2009 e 2015, nos automóveis a gasóleo de quatro cilindros que evitava as regulações sobre emissões, uma situação admitida às autoridades pelo grupo alemão.


Paulo Solipa, Carlos Felgueiras - RTP (21 de setembro)

A estratégia da empresa para o mercado norte-americano passava por vender carros a gasóleo com motores poderosos e poucas emissões, como forma de ganha quota no mercado.

No mesmo dia em que as ações do grupo Volkswagen, maior fabricante de automóveis no mundo, estavam em queda, o Governo alemão exigiu à construtora automóvel que colaborasse com as autoridades norte-americanas.

Nos Estados Unidos foi aberta uma investigação criminal ao grupo Volkswagen, a cargo da divisão do Departamento de Justiça responsável pelas questões relacionadas com os recursos naturais.

O escândalo levantou uma tempestade na Europa e foram também abertas investigações na Alemanha e em Itália.
Milhões de automóveis

A 22 de setembro, o grupo alemão anunciou que mais de 11 milhões de carros a gasóleo em todo o mundo foram equipados com um determinado tipo de motor que poderia distorcer os dados das emissões.


Vanda Freire - RTP (22 de setembro)

“Os veículos novos do grupo Volkswagen com motores a diesel EU 6, atualmente disponíveis na União Europeia, estão em conformidade com os requisitos legais e as normas ambientais, mas os veículos com motores tipo EA 189, envolvendo cerca de onze milhões de automóveis em todo o mundo, poderão ter discrepâncias nos dados das emissões”, revela a empresa num comunicado.

No entanto, a Volkswagen não especificava quantos modelos estariam afetados pela decisão - alguns dos veículos equipados com este motor são, por exemplo, o Golf, Jetta, Beetle da Volkswagen e o Audi A3.

No documento, o grupo alemão acrescenta estar a “trabalhar intensamente para eliminar as discrepâncias através de medidas técnicas”, estando em contacto com as autoridades competentes.
Sai Winterkorn

A 23 de setembro, no seguimento do escândalo, Martin Winterkorn, presidente executivo do grupo Volkswagen anunciou a demissão.

“A Volkswagen precisa de um novo começo. Eu estou a limpar o caminho para que este novo começo com a minha demissão”, frisou.


João Rosário, Guilherme Brízido - RTP (23 de setembro)

Em Portugal, a 24 de setembro, o ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou que os automóveis da Volkswagen produzidos na Autoeuropa, a fábrica do grupo em Palmela, “não tiveram a incorporação do kit que falseou o desempenho dos motores”.

No mesmo dia, o jornal espanhol El Pais revelava que a Seat, a marca do grupo Volkswagen no país, instalou em mais de um milhão de automóveis o software que falseia as emissão de gases poluentes.

Um dia depois, o grupo Volkswagen informou que existiam sete milhões de veículos da sua marca principal afetados em todo o mundo pela manipulação das emissões poluentes. Alguns dos quais estarão exclusivamente equipados com o motor diesel EA 189. Nos quais estava o Golf de sexta geração, o Passat de sétima geração e a primeira geração do Tiguan.
Entra Mueller

Ainda a 25 de setembro o grupo alemão anunciou a nomeação de Matthias Mueller como novo presidente executivo.

Mueller de 62 anos que tinha sido presidente da Porrche, afirmou após a nomeação que o grupo Volkswagen “vai ultrapassar o escândalo e tornar-se ainda mais forte”.


Sónia Silva, José Luís Carvalho - RTP (25 de setembro)

“Podemos e vamos ultrapassar esta crise. Juntos vamos fazer da Volkswagen uma empresa ainda mais forte”, sublinhou.

Na bolsa de Frankfurt, as ações da Volkswagen, que já tinham perdido cerca de 35 por cento no início da semana, caíram 4,32 por cento.

A 26 de setembro, o grupo alemão anunciou que vai apresentar brevemente uma solução que elimine a manipulação de gases poluentes dos seus carros a gasóleo e que a adoção dessas medidas será gratuita para os proprietários dos veículos afetados. A SIVA, distribuidor para Portugal das marcas do grupo Volkswagen, revelou a 29 de setembro que existem 94.400 veículos equipados com motores Euro 5 no país.

Do total, 53.761 são veículos da marca Volkswagen, 31.839 da marca Audi e 8.800 da marca Skoda.


O grupo alemão anunciará três dias mais tarde que vai chamar à revisão cinco milhões de veículos afetados pela manipulação do motor diesel EA 189 EU5, sem no entanto adiantar se fará o mesmo com os automóveis das restantes marcas.

No total, trata-se de 11 milhões de veículos afetados em todo o mundo, dos quais cinco milhões são da marca Volkswagen, 2,2 milhões da Audi, 1,2 milhões da Skoda, 700 mil da Seat e 1,8 milhões de veículos comerciais.

Na Europa existem 8,5 milhões de veículos equipados com motores manipulados. Só em Portugal existem 125.491 mil veículos afetados, dos quais 102.140 das marcas Volkswagen, Audi e Skoda e 23.351 carros da Seat.

A 7 de outubro, o grupo Volkswagen enviou às autoridades alemãs o plano de ação para resolver o problema dos 11 milhões de veículos a gasóleo envolvidos na manipulação de gases poluentes. O plano que implica mudanças no software dos motores de dois litros e muito provavelmente reparações técnicas adicionais nos motores de 1,6 litros prevê ainda a chamada dos veículos às oficinas para reparações.

Numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung o presidente do grupo avançou que o objetivo da empresa é começar em janeiro de 2016 com as revisões e efetuar as reparações ao longo de 2016.

A 21 de outubro, a Volkswagen suspendeu a venda de carros novos a gasóleo nos stands europeus que possam estar afetados com o kit fraudulento de manipulação de exames.

No final de outubro, a 28, são conhecidas as contas da Volkswagen, que revelam que o grupo alemão registou prejuízos de 3,48 milhões de euros no terceiro trimestre do ano. São as primeiras perdas em 15 anos.
Gasóleo, gasolina

A 4 de novembro, rebenta mais um escândalo relacionado com o grupo Volkswagen, com dois novos problemas.

Uma auditoria interna revela que há irregularidades nos valores referentes às emissões de dióxido de carbono que envolve mais de 800 mil automóveis, dos quais 98 são veículos a gasolina das marcas Volkswagen, Skoda e Seat. Um problema que não de resume exclusivamente aos modelos a gasóleo.

 

Para além das emissões a Volkswagen foi forçada a chamar mais de 91 mil carros, vendidos nos Estados Unidos, às oficinas devido a um problema nos travões. Um problema detetado nos veículos a gasolina dos modelos Beetle, Golf, Jetta e Passat.

A 25 de novembro o grupo alemão confirma que não haverá indeminizações para os clientes europeus proprietários de veículos equipados com um dispositivo para distorcer as emissões poluentes, ao contrário dos norte-americanos.

O escândalo da Volkswagen, que rebentou nos Estados Unidos no final de setembro, levou a que as vendas do grupo caíssem 24,7 por cento no mercado norte-americano.
Passo atrás

A 9 de dezembro a Volkswagen declarou que não mentiu sobre o nível de emissões de CO2 de 800 mil automóveis, ao contrário do que tinha revelado em novembro.

Segundo um comunicado do construtor alemão, “depois de controlos internos e medidas completas, ficou estabelecido que em quase todos os modelos, as emissões efetivas de CO2 correspondem aos valores indicados”.

A 10 de dezembro, o grupo anunciou que vai começar a chamar às oficinas os veículos com emissões poluentes. Uma operação que poderá levar mais de um ano.


Natércia Simões - Antena 1 (10 de dezembro)

Em janeiro começam a ser chamados os proprietários de veículos com os motores 2.0 TDI. No segundo trimestre os modelos equipados com motores 1.2 TDI.

Para o terceiro trimestre, está previsto que os veículos equipados com motores 1.6 TDI sejam chamados às oficinas.

No entanto, o presidente executivo do grupo não garante que os 11 milhões de carros afetados sejam reparados no prazo de um ano.