Sistema financeiro "descalço" sem dinheiro do Suncity, Pequim quer acabar com jogo em Macau

por Lusa

O economista Albano Martins disse hoje à Lusa que a queda do grupo Suncity, o maior angariador mundial de apostadores, deixará "descalço" o sistema financeiro em Macau e que Pequim quer acabar com o jogo no território.

"Para além da questão do emprego, há uma situação mais complicada: o dinheiro que vinha para Macau através do Suncity, e que passava pelo sistema financeiro, vai deixar o sistema financeiro descalço", antecipou.

Albano Martins afirmou que a queda do grupo - o maior angariador de apostadores do mundo, grande empregador e com presença em mais de 40% das salas dos casinos -, "vai provocar um grande abalo na indústria do jogo em Macau".

Isto porque, sublinhou, "vai-se estender para o sistema financeiro e isso vai ser aterrador", lembrando que se está a falar de um grupo que estava a posicionar-se para concorrer a uma das novas licenças de exploração do jogo, a atribuir em 2022.

Todas as salas de jogo VIP em Macau exploradas pelo Suncity foram hoje encerradas, após a prisão preventiva do diretor-geral do grupo Suncity, Alvin Chau, que pediu a demissão do cargo.

O Ministério Público (MP) defende a existência de indícios suficientes da prática dos crimes de participação em associação criminosa (punível com pena de prisão até 10 anos), chefia de uma associação criminosa (até 12 anos de prisão), branqueamento de capitais (até oito anos de cadeia) e de exploração ilícita do jogo (até três anos).

As políticas do jogo estão a ser determinadas por Pequim, frisou Albano Martins: "é uma questão interna da China, Macau não tem muita palavra".

"Esta é uma perspetiva muito pessoal: o jogo não é algo muito bem visto pelo Governo central. Está a perder força e tenho a ideia de que a China não terá problema em acabar com uma coisa que não é produtiva, sendo que em Macau ainda não se percebeu muito bem isto. E por isso há tanta insistência no discurso da diversificação da economia", argumentou.

Do pedido das autoridades chinesas para que o diretor-geral do Suncity se entregasse, até à prisão preventiva de Alvin Chau, pedido de demissão e encerramento das salas e suspensão da venda de ações não passou sequer uma semana.

A prisão decisão foi tomada após interrogatório de 11 arguidos, detidos no sábado, e dada "a gravidade da natureza dos referidos crimes, nomeadamente o seu enorme impacto e abalo causados à exploração lícita do setor do jogo de Macau e à estabilidade da ordem financeira" do território, indicou o Ministério Público, em comunicado.

Em 2019, a Polícia Judiciária de Macau detetou a existência de um grupo criminoso que se aproveitava das operações das salas VIP para criar redes de plataformas de jogo para angariar residentes do interior da China para jogo `online` ilícito.

Na sexta-feira, a procuradoria da cidade de Wenzhou, no leste da China, já tinha pedido a Alvin Chau para se entregar às autoridades e cooperar com a investigação.

Chau desenvolveu uma rede de pessoal no interior da China, para organizar visitas a salas de jogo no exterior e participar em atividades de jogo `online` transfronteiriças, de acordo com uma nota das autoridades chinesas.

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