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"Site" da União Europeia para denúncia de "lobby obscuro"

por RTP
Olivier Hoslet - EPA

Vários eurodeputados estão a lançar um "site" para funcionários do parlamento europeu e da UE que servirá para alertar situações de "lobby obscuro" de grandes empresas de tecnologia e outros grupos de interesse.

lobbyleaks.eu será um site criptografado que funcionará como “linha direta” para receber informações anónimas sobre práticas suspeitas de lobby.

O portal está a ser ultimado por um grupo de eurodeputados e pretende combater as pressões exercidas por grupos organizados para atingir determinados objetivos ou para defender determinados interesses.

Paul Tang, um dos eurodeputados social-democrata dos Países Baixos que co-lidera a iniciativa, afirma ao Guardian que a “linha direta de receção de dados sobre situações de lobby” será um sistema de alerta precoce sobre táticas suspeitas, como o uso de organizações de fachada, pois o "parlamento enfrenta lobby obscuro de poderosas empresas de tecnologia" que procura influenciar as decisões.

Tang citou práticas como o chamado astroturfing, um tipo de marketing em que grandes empresas usam organizações de fachada para representar os seus interesses sem que os verdadeiros promotores sejam detetados.

Por exemplo, a prática de uma empresa criar comentários positivos sobre o seu produto ou serviço e pagar para que sejam publicados, de forma a que esses mesmos comentários pareçam vir de pessoas utilizadoras comuns do público.

O eurodeputado tomou consciência deste lado “obscuro” das pressões depois de os legisladores negociarem a Lei de Mercados Digitais e a Lei de Serviços Digitais, considerada uma legislação histórica para regulamentar as grandes empresas de internet. Paul confessa que não contou com a presença do “lobby não convencional” para influenciar decisões.

“Depois da legislação ter sido aprovada, concluímos que havia um lobby obscuro a acontecer”, sublinhou.

Paul Tang também identificou “lobby clandestino” de organizações que afirmam ser a voz de pequenas e médias empresas (PMEs), apesar de serem financiadas por grandes companhias de tecnologia.

O grupo de trabalho do novo site inspirou-se no trabalho de Georg Riekeles, um antigo funcionário da Comissão Europeia, que relatou grande movimentação de empresas para diluir a regulamentação da UE sobre publicidade direcionada.

Bruxelas “nunca tinha visto tantas organizações de PME e startups aparecerem para fazer lobby”, escreveu.

Bram Vranken, ativista do Corporate Europe Observatory, avançou que as cinco grandes empresas de tecnologia – Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft – gastam quase € 27 milhões por ano a fazer lobby na UE. Os números são baseados nos últimos relatórios da organização que analisam o registo de transparência da União.

“[Empresas de tecnologia] estão a financiar todo um ecossistema de organizações, desde thinktanks, grupos de interesse até grupos de fachada. Eles têm muito potencial para definir a agenda e enfraquecer a regulamentação que está a ser elaborada”, afirmou.

“O Lobbyleaks ajudará a expor esse tipo de influência enganosa e opaca que se tornou central nas táticas de lobby das grandes empresas de tecnologia”, observou.
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