A China está a voltar-se para o Brasil para compensar a quebra nas compras de produtos agrícolas dos Estados Unidos, no contexto da guerra comercial lançada por Donald Trump, segundo a imprensa local.
Um total de 40 navios descarregou este mês 700 mil toneladas de soja proveniente do Brasil no porto de Ningbo, no leste da China, um aumento de 32% face ao mesmo período de 2024, de acordo com a televisão estatal chinesa CCTV.
"Depois de a China reduzir as compras aos EUA, os navios com soja brasileira começaram a chegar um atrás do outro", escreveu o canal, numa conta na rede social Weibo.
A operação é mais um sinal de que a China está a reduzir a dependência das importações agrícolas dos EUA, após cancelar, na semana passada, encomendas de 12.030 toneladas métricas de carne de porco norte-americana - o maior cancelamento desde maio de 2020.
Washington subiu até 145% as tarifas sobre produtos chineses nas últimas semanas. Pequim retaliou com taxas adicionais de 125% sobre produtos norte-americanos e suspendeu as compras de produtos agrícolas.
Brasil aproveita diferendo
O ministro da Agricultura e Pecuária brasileiro, Carlos Fávaro, assegurou que o Brasil vai aproveitar todas as oportunidades geradas pela guerra comercial entre Pequim e Washington.
"Não gosto de comemorar crises, de comemorar qualquer instabilidade, que é o caso. Os Estados Unidos começam a tomar medidas que desestabilizam de forma brutal as relações comerciais mundiais e não devemos celebrar isso. Agora, nas crises geram-se oportunidades. E o Brasil está atento às oportunidades e vai ampliar", declarou.
Fávaro destacou ainda a abertura dos mercados de gergelim e sorgo da China para as empresas brasileiras - resultado de um acordo assinado em novembro - como uma oportunidade significativa.
O Brasil tem beneficiado das disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo desde a primeira guerra comercial, iniciada durante o primeiro mandato presidencial de Donald Trump (2017-2021). Desde então, a China aumentou as compras de soja ao país para reduzir a dependência dos EUA.