Soros responsabiliza "defeito estrutural do euro" pela crise da dívida

por RTP
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O multimilionário húngaro-norte-americano George Soros considerou hoje que a responsabilidade pela chamada crise das dívidas soberanas cabe ao "defeito estrutural do euro", que consiste em se ter tornado moeda de países que não exercem qualquer controlo sobre a emissão monetária. A solução consistiria nos eurobonds - ou em sair do euro ... a Alemanha.

O artigo de Soros, hoje publicado em Spiegel online, divide-se em duas partes. Numa primeira, o celebrado investidor internacional aponta o dedo ao que chama "o defeito estrutural" do euro: "As origens da crise só se compreendem se tivermos consciência do erro fatal do euro: devido à criação de um banco central independente, os países-membros endividaram-se numa moeda que não controlam".Eurobonds com efeito quase "milagroso" Embora inicialmente esse endividamento tenha parecido normal e fosse tratado como o endividamento de qualquer país com o seu próprio banco emissor e a sua própria moeda, sucedeu depois, com a eclosão da crise grega, que "o espectro de um incumprimento se tornou ameaçador". Em consequência, "os mercados financeiros reagiram com veemência e despromoveram todos os países europeus mais endividados ao estatuto de países do Terceiro Mundo sobreendividados em moedas estrangeiras".

A solução, segundo Soros, "resume-se numa única palavra: eurobonds". Para o destacado financeiro, "seria pouco menos do que milagroso o efeito positivo de permitir que os países cumpridores do novo pacto fiscal da União Europeia transformassem todas as obrigações da sua dívida pública em eurobonds".

No caso da Itália, que dá como exemplo ilustrativo, Soros considera que "a maioria dos problemas aparentemente insolúveis diluir-se-iam no ar, como se despertássemos de um pesadelo".

Em todo o caso, o autor do artigo não defende um recurso indiscriminado aos eurobonds e, especialmente, não o defende para emitir dívida nova. Segundo sugere, "nos termos do pacto fiscal, os Estados membros só poderiam emitir eurobonds para substituir os que caducassem. Ao fim de cinco anos ter-se-ia desse modo reduzido gradualmente as dívidas pendentes a 60 por cento do PIB".

Para as novas dívidas dos Estados deveria, ainda segundo Soros, vigorar uma norma rigorosa: "Se um país membro fizesse dívidas adicionais, só poderia contrair empréstimos para esse efeito em seu próprio nome".

Admitindo que os eurobonds não são uma pomada milagrosa para todos os males da economia e das finanças públicas, Soros insiste contudo em que, se a Alemanha os aceitasse, "isso mudaria completamente a atmosfera política e facilitaria as reformas necessárias".
Dilema da Alemanha: aceitar eurobonds ou sair do euro Ora este "se" é precisamente o tema da segunda parte do artigo. Aquilo que, do ponto de vista de Soros, parece evidente, continua a ser recusado pelo Governo de Angela Merkel, que conseguiu mesmo sufocar qualquer debate em torno do tema. Ao fazê-lo, escondeu perante a opinião pública alemã que "a aprovação dos eurobonds seria muito menos arriscada e menos cara do que continuar a fazer apenas os mínimos para manter o euro".

O autor do artigo concede que "a Alemanha tem o direito de recusar os eurobonds". Mas logo acrescenta que "não tem o direito de impedir países fortemente endivididados de escaparem à sua miséria unindo-se para emitirem eurobonds".

E deixa um conselho: "Se a Alemanha não quiser eurobonds, deverá ponderar a sua saída do euro".

Soros profetiza também: "Surpreendentemente, eurobonds emitidos por uma zona euro sem a Alemanha, continuariam a fazer boa figura em comparação com as obrigações norte-americanas, britânicas e japonesas".

E explica o "surpreendente" fenómeno: "Como todas as dívidas existentes são em euros, é decisivo que país sai do euro. Uma saída da Alemanha desvalorizaria o euro. Os países devedores recuperariam competitividade. As suas dívidas reais reduzir-se-iam e, com a emissão de eurobonds, o risco de incumprimento desapareceria. O peso da dívida desses países tornar-se-ia subitamente suportável".

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