`Startup` portuguesa Stex quer lançar em 2 anos primeira biorrefinaria da Península Ibérica

por Lusa

A `startup` portuguesa Stex, cuja faturação rondou os 500 mil euros em 2020, quer lançar em dois anos a primeira biorrefinaria da Península Ibérica e aumentar o volume de negócios para seis milhões de euros, anunciou hoje a empresa.

"A previsão de faturação da Stex para 2020 é de meio milhão de euros, fruto de desenvolvimentos com empresas portuguesas, mas, com o arranque da primeira biorrefinaria e a venda do biocombustível avançado, o volume de negócios poderá ascender a seis milhões de euros", refere a empresa em comunicado.

Com capitais 100% portugueses, a Stex foi constituída em 2019 após quatro anos a desenvolver a tecnologia no Brasil, tendo instalado no `campus` do Lumiar do Laboratório Nacional de Engenharia e Geologia (LNEG), em Lisboa, a unidade piloto que os seus fundadores mantinham do outro lado do Atlântico.

A unidade está em operação, numa escala de 1:15 a 1:20 da biorrefinaria comercial, sendo atualmente "uma das maiores da União Europeia e, de longe, a maior da Península Ibérica", salienta.

A decisão de se mudarem do Brasil para a Europa é justificada pelos fundadores pelo facto de aqui existir "legislação madura para a transição energética e para uma sociedade neutra em carbono até 2050".

A atividade da Stex passa pelo desenvolvimento de tecnologias verdes para a produção de biocombustíveis líquidos, pré-bióticos e proteínas a partir de biomassas residuais ou resíduos em escala industrial e foi hoje distinguida com o prémio Born from Knowledge (BfK) Awards, atribuído pela Agência Nacional de Inovação (ANI), no âmbito da 7.ª Edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação Crédito Agrícola.

A solução inovadora desenvolvida pela Stex e agora premiada aproveita os resíduos florestais e agrícolas e os resíduos sólidos urbanos para produzir bioetanol, que tem de ser incorporado nos combustíveis do setor dos transportes para responder à diretiva europeia `Renewable Energy -- Recast to 2030 (RED II)`.

A RED II foi aprovada em 2018 pela União Europeia e até 2030 obrigará o setor dos transportes a incorporar, no mínimo, 3,5% de biocombustíveis que provenham de resíduos.

"A questão é que não há produtores deste tipo de biocombustíveis em Portugal e, na Europa, a produção é incipiente", refere a Stex, explicando que o processo inovador que desenvolveu, "ao contrário do que acontece nas soluções maioritariamente adotadas, não parte de açúcares (Brasil) ou hidratos de carbono (Europa e EUA)".

Estas alternativas, além de "não serem as mais sustentáveis, ainda competem com a produção de alimentos, o que aumenta os seus preços", sustenta, avançando que a sua solução "assenta numa unidade industrial - a biorrefinaria - para transformar resíduos florestais, agrícolas ou lixo urbano em bioetanol".

"Trata-se de um biocombustível avançado, uma vez que é feito a partir de matéria celulósica residual e não compete com a produção de alimentos", salienta.

Os clientes da Stex são os distribuidores de combustíveis, que, no âmbito da RED II, têm de incorporar nos seus produtos pelo menos 0,2% bioetanol já em 2022, 1% em 2025 e 3,5% em 2030, no âmbito do objetivo de que, até 2030, o consumo de fontes de energia renováveis pela União Europeia seja de 32%.

Com a procura por este tipo de biocombustível a aumentar nos próximos anos, a Stex prevê que, só na Europa, o potencial de mercado pode chegar a 15 mil milhões de euros.

Através da parceria com o LNEG, a Stex diz ter validado o processo para resíduos florestais (de Portugal), bagaço de azeitona e podas de oliveiras, e resíduos sólidos urbanos (RSU), estando neste momento "em busca de parceiros para implementar as biorrefinarias em Portugal e na Europa".

"Nos próximos dois anos o objetivo é construir em Portugal a primeira biorrefinaria da Península Ibérica, e, em 10 anos, 10 no território ibérico", precisa, adiantando que "o restante mercado europeu também está nos seus horizontes".

Conforme explica a empresa, o processo que desenvolveu "dá um destino sustentável aos resíduos florestais, agrícolas ou urbanos", permitindo aos distribuidores de combustíveis "contribuir para a descarbonização da sociedade ao utilizar um biocombustível de resíduos que pode reduzir até cerca de 95% as emissões de dióxido de carbono (CO2) em comparação com os fósseis".

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