TAP pode ser embrião de crise governativa

A TAP assume em comunicado o fim das ligações entre o Porto e Milão, Barcelona, Bruxelas e Roma, que passarão a ter passagem por Lisboa. Rui Moreira é recebido esta quarta-feira pelo primeiro-ministro, mas nem o encontro adiou a afirmação da TAP. Está ainda confirmado que a TAP pode mesmo vir a ter capital chinês. O Governo considera este um bom negócio mas Catarina Martins está frontalmente contra e volta a reclamar o controlo público pleno da companhia. No Jornal 2, Manuel Carvalho considerou que a questão pode valer a ruptura entre o Governo os partidos que, à esquerda do PS, o suportam.

João Fernando Ramos, Rui Sá /
Dez a 13 por cento da TAP podem vir a ser chineses. O negócio é visto com bons olhos pelo Estado e irá permitir à HNA participar no empréstimo obrigacionista de 120 milhões de euros à Transportadora Aérea Nacional.

Esta assume parte da fatia de 90 milhões de euros que caberiam ao consórcio Atlantic Gateway, com a possibilidade de mais tarde essas obrigações serem transformadas em capital.

O que na realidade acontece é que os direitos concedidos à brasileira Azul, na privatização feita pelo anterior governo, transitam para os futuros sócios chineses.

A HNA é precisamente o mesmo grupo com que David Neeleman, o patrão da Azul, assinou em setembro do ano passado uma parceria para garantir as ligações aéreas entre a China e o Brasil, com escala em Lisboa.

A HNA é um grupo privado chinês com interesses no turismo, em especial na hotelaria. É o principal sócio da Hainan Airlines, a maior companhia aérea privada da China. Opera para 90 destinos em todo o mundo e, na Europa, faz voos para Bruxelas e Berlim.

Caso o negócio vá avante, Portugal poderá passar a ser mais do que uma escala nos seus voos entre a China e o Brasil.
PSD quer esclarecimentos
Perante este negócio, o PSD entende que o ministro do Planeamento e Infraestruturas omitiu informação relevante sobre a retoma de 50 por cento do capital da empresa. Os sociais-democratas querem ouvir no Parlamento esclarecimentos de Diogo Lacerda Machado. Lacerda Machado é o homem que negociou todo o processo.

O ministro Pedro Marques garante que falou na possibilidade aos deputados da primeira vez que foi ouvido na Comissão Parlamentar sobre o negócio da TAP.
Porto e a TAP
Mas as polémicas em torno da TAP não se ficam por aqui. Há uma batalha de comunicados devido ao fim de voos a partir do aeroporto do Porto.

A empresa garante que as ligações diretas do aeroporto Francisco Sá Carneiro a Bruxelas, Roma, Milão e Barcelona acabam porque "significam para a TAP um prejuízo de 8.020 milhões de euros". O site Porto Ponto, gerido pela autarquia da invicta, desmente a empresa.

Citando o Relatório e Contas de 2014 da Portugália, que opera aqueles voos, revela que "no acumulado dos últimos três anos, a Portugália (...) ofereceu 14 milhões de euros de lucro ao Grupo TAP" operando sobretudo a partir do único aeroporto internacional do noroeste peninsular. O referido relatório não está acessível no site da Transportadora Aérea Nacional.A 27 de Março tem inicio a ponte aérea entre Lisboa e Porto, que terá 18 voos diários em cada sentido.

Esta quarta-feira, António Costa recebe Rui Moreira para discutir a supressão de ligações aéreas.

No comunicado que esta segunda-feira divulgou, a TAP trata o assunto como um caso encerrado e anuncia que o Porto terá mais movimentos de aviões da companhia em 2016 do que no ano passado.

Para 1 de Junho, a TAP anuncia o arranque de outra ligação contestada por Rui Moreira: Lisboa - Vigo com 70 lugares diários.

Esta apresenta-se como uma outra forma de desviar passageiros do maior aeroporto internacional do noroeste peninsular para o hub de Lisboa, onde a TAP terá registado um prejuízo de 46 milhões de euros só no ano passado.
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