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Trabalhadores dos CTT em greve contra cortes e por serviço público

por RTP
José Coelho - Lusa

A defesa da prestação de um serviço público de correios de qualidade está na origem do protesto dos trabalhadores dos CTT que esta sexta-feira estão em greve. Os sindicatos dizem que a adesão é superior a 70 por cento. Na base da paralisação está ainda o plano de transformação operacional da empresa, que prevê a redução de cerca de 800 trabalhadores. Já a administração garante que a adesão não tem significado e que esta greve "é claramente de matriz ideológica".

Os números dos sindicatos apontam para uma adesão à greve dos trabalhadores dos CTT que ronda os 70 por cento. A administração afiança, por seu turno, que a adesão não vai além dos 16 por cento e que a rede de atendimento está "em funcionamento a 100 por cento". 

O dia fica também marcado por uma manifestação em Lisboa contra a falta de condições laborais.

Os trabalhadores dos CTT iniciaram à meia-noite a segunda paralisação em dois meses, após dois dias de paralisação em dezembro, seguindo-se uma manifestação em Lisboa contra a falta de condições laborais.
Não foram decretados serviços mínimos
A manifestação arranca ao início da tarde do Marquês de Pombal e irá dirigir-se à residência oficial do primeiro-ministro, António Costa, em São Bento. Aí, os quatro sindicatos (SNTCT, Sindelteco, Sincor e SINTTAV) entregarão documentos com as suas preocupações.

Não foram decretados serviços mínimos para a greve mas os responsáveis pelos correios garantem a entrega de produtos básicos como medicamentos e vales-postais.

A greve tem como motivo a contestação ao plano apresentado no final do ano passado pela administração dos correios que prevê a redução de pessoal e o encerramento de postos de atendimento em todo o país, como explicou à Antena 1 o sindicalista José Arsénio.

"A razão desta greve é mais uma vez a defesa do serviço público postal de qualidade. O que se tem passado ao longo dos anos é a deterioração e a degradação completa do serviço postal, não servindo convenientemente os utentes, a particulares e empresas, de um serviço que é essencial para a população", explicou José Arsénio.

Na origem do protesto está ainda o Plano de Transformação Operacional dos CTT, que foi apresentado pela empresa em dezembro e que prevê a redução de cerca de 800 trabalhadores na área das operações em três anos e a otimização da rede de lojas, através da conversão em postos de correio ou do fecho de lojas com pouca procura.
Encerramento de estações
Quanto às estações a encerrar, inicialmente foram apontadas 22, mas o número baixou depois para 19 com a criação de novos postos dos CTT em locais como juntas de freguesia ou estabelecimentos comerciais.

Entretanto os sindicatos avançaram esta semana que poderão ser até 40 estações, número que a empresa veio rejeitar, esclarecendo que encerraram 16 pontos de acesso do universo de 22 anunciados e que foram abertos dez novos postos de correio.

O sindicalista José Arsénio disse ainda que tem a certeza de que a distribuição vai ser afetada pela greve.

Já administração dos CTT assegurou à RTP que a greve não está a ter grande impacto. O diretor de Recursos Humanos garante que estão a funcionar todas as lojas no país e que esta é uma greve "de matriz ideológica".

"A greve é uma arma que os trabalhadores têm precisamente para manifestarem o seu desagrado. Se os níveis de adesão não têm significado é porque os motivos que estão subjacentes a esta greve, são motivos que não têm a ver com a realidade daquilo que são as relações laborais na empresa", explicou o diretor de recursos humanos dos CTT.

António Marques ressalvou que esta greve "é claramente de matriz ideológica. O mote principal é o da reversão da privatização. Não são as condições de trabalho nos CTT", concluiu.
Privacidade dos clientes em causa
O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios alertou que a substituição dos balcões dos CTT por postos em papelarias e juntas de freguesia põe em causa a privacidade dos clientes.

"Os trabalhadores dos correios estão obrigados ao sigilo profissional e cumprem. Nos outros estabelecimentos normalmente toda a gente sabe quem lá vai buscar o vale e quanto é que a pessoa ganha, se tem processos em Tribunal, se tem cartas das finanças que eventualmente são pagamentos em atraso. Enquanto que nos correios aquilo passa completamente despercebido e há efetivamente sigilo, exdplicou Vítor Narciso, do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações.

Os trabalhadores dos CTT estão ainda contra a falta de pessoal que leva a uma má prestação dos serviços.

"O serviço de correios não está a funcionar, fruto de um conjunto de alterações que foram feitas ao longo dos tempos, também da não contratação de pessoas. Desde 2008 que não há contratação para as áreas operacionais", explicou José Rosário, da Comissão de Trabalhadores dos CTT.

E dá como exemplo os cerca de quatro mil itinerários de distribuição, em que "dez por cento destes itinerários não têm trabalhadores afetos. Passa lá um carteiro para além do horário de trabalho ou simplesmente não passa lá ninguém. Isto está a gerar problemas graves, tanto no atendimento com muito tempo de espera nas estações de correios. Os CTT simplesmente deixaram de investir e deixaram de garantir que temos as condições necessárias para conseguirmos prestar um serviço", lamentou José Rosário.

A greve de 24 horas estende-se a todas as estações e espaços dos CTT do país e as ações são organizadas pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telecomunicações (SNTCT), pelo Sindicato Democrático dos Trabalhadores das Comunicações e dos Media (SINDETELCO), pelo Sindicato Independente dos Correios de Portugal (SINCOR), pelo Sindicato Nacional Dos Trabalhadores Das Telecomunicações e Audiovisual (SINTAAV) e pela Comissão de Trabalhadores.
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