Tribunal de Contas considera ineficaz programa "leite para as escolas" e questiona a sua continuidade
Bruxelas, 24 out (Lusa) -- O Tribunal de Contas Europeu (TCE) considera que o programa "leite para as escolas" é "muito pouco eficaz e tem um impacto muito reduzido" e só faz sentido continuar a ser implementado se houver uma reforma profunda.
O TCE, com sede no Luxemburgo, e presidido pelo juiz português Vítor Caldeira, publicou hoje um relatório sobre a eficácia dos programas "leite para as escolas" e "distribuição de fruta nas escolas", concluindo que o primeiro, em vigor desde 1977, é extremamente ineficaz, enquanto o segundo, muito mais recente (teve início no ano letivo 2009/2010), tem potencialidades.
Os dois programas em causa pretendem incentivar as crianças a adotar uma alimentação saudável, consumindo produtos lácteos, fruta e legumes, bem como contribuir para melhorar o mercado destes produtos.
Relativamente ao leite escolar, o programa disponibiliza aos Estados Membros subvenções à venda a preço reduzido de produtos lácteos aos alunos, mas a auditoria do relatório do Tribunal de Contas Europeu conclui que o programa é afetado por um "efeito de inércia muito significativo".
Segundo o TCE, "os produtos subvencionados teriam sido, na maior parte dos casos, incluídos nas refeições das cantinas ou comprados pelos beneficiários mesmo sem a subvenção" e "este efeito é intensificado pela ausência de um instrumento que oriente a ajuda para as necessidades prioritárias".
Por outro lado, "os objetivos expressos a nível educativo não são suficientemente tidos em conta na conceção e execução do programa", aponta o relatório.
O TCE recomenda então que a manutenção do programa deve ser "condicionada à possibilidade de se efetuar uma reforma aprofundada para corrigir as insuficiências identificadas" e deverá ser tido em consideração o modelo de distribuição gratuita fora das cantinas, orientada para uma população a definir em função das necessidades nutricionais efetivas.
Já quanto ao programa de distribuição gratuita de fruta nas escolas da UE, o TCE aponta que embora seja ainda demasiado cedo para formar uma opinião definitiva sobre a eficácia do mesmo, "a sua conceção torna-o mais suscetível de alcançar os seus objetivos" e algumas soluções deste programa poderão mesmo ser consideradas como possibilidades de melhorar a eficácia do programa "Leite para as escolas".
Atualmente, a UE afeta um orçamento anual de 180 milhões de euros a estes dois regimes de ajudas.
"A coordenação e a sinergia entre os dois programas deverão também ser reforçadas, a fim de garantir uma abordagem nutricional coerente e otimizar a sua gestão", conclui o TCE.