Economia
Trump impõe tarifa de 50% à Índia como punição pela compra de petróleo russo
Tal como estava previsto, entraram esta quarta-feira em vigor as tarifas adicionais dos Estados Unidos sobre os produtos indianos. Para além das taxas de 25% já impostas no início do mês, os EUA estabeleceram agora uma taxa adicional de 25% como uma punição pela compra de petróleo russo por parte da Índia.
As tarifas não afetam todas as exportações, mas concentram-se em sectores-chave para gerar pressão social e económica, como têxteis, pedras preciosas e marisco, isentando outros produtos em que os EUA têm interesses, como produtos farmacêuticos e eletrónica.
Estas estão entre as tarifas mais elevadas impostas por Donald Trump, o que coloca a Índia – um dos parceiros mais fortes dos EUA na região Indo-Pacífico – em desvantagem em relação aos seus principais concorrentes asiáticos, como a China e o Vietname.A medida surge após cinco rondas de negociações falhadas, durante as quais as autoridades indianas sinalizaram otimismo de que as tarifas norte-americanas poderiam ser limitadas a 15%, a taxa concedida aos produtos de outros grandes parceiros comerciais dos EUA, incluindo o Japão, a Coreia do Sul e a União Europeia.
No entanto, as negociações fracassaram e os EUA avançaram com as tarifas adicionais de 25% sobre os produtos indianos.
Com esta medida punitiva, que entrou em vigor à meia-noite desta quarta-feira, Washington pretende castigar a Índia por continuar a comprar petróleo bruto russo, uma política que o Governo indiano tem defendido por razões de segurança energética e de controlo da inflação. Os EUA, por sua vez, consideram que a compra de petróleo russo é uma forma de financiamento indireto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
A Índia, o terceiro maior importador de petróleo bruto do mundo, adotou uma posição neutra e pragmática na guerra da Ucrânia e passou de um volume de importações de petróleo russo abaixo de 2% para mais de um terço das necessidade do pais, fazendo de Moscovo o principal fornecedor indiano e aproveitando os descontos oferecidos pelo Kremlin.
Primeiro-ministro indiano pede "autossuficiência"
Como resposta às tarifas de Donald Trump, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometeu cortar impostos para mitigar o seu impacto económico, ao mesmo tempo que defendeu a autossuficiência interna.
"Devemos tornar-nos autossuficientes — não por desespero, mas por orgulho", disse Modi num discurso durante o dia da independência, celebrado a 15 de agosto.
"O egoísmo económico está a aumentar globalmente e não devemos ficar sentados a chorar pelas nossas dificuldades; precisamos de nos erguer e não permitir que outros nos controlem", acrescentou. O Governo indiano recusou interromper a compra de petróleo russo e o primeiro-ministro incentivou os indianos a comprar petróleo local.
“Todos nós devemos seguir o mantra de comprar apenas produtos ‘Made in India’”, disse Modi na terça-feira, incentivando os lojistas a exibirem grandes cartazes a promover produtos nacionais. “A pressão sobre nós pode aumentar [por causa das tarifas], mas vamos suportá-la”, garantiu.
Modi prometeu ainda uma “enorme bonança fiscal” para o cidadão comum e para as pequenas empresas.
Acordo Comercial Bilateral
Embora a justificação oficial dos Estados Unidos para a imposição do acrescimento tarifário se tenha centrado na compra de petróleo russo pela Índia, em Nova Deli a medida é interpretada como uma tática de pressão para desbloquear o estagnado Acordo Comercial Bilateral (BTA) EUA-Índia.
Desde fevereiro, representantes indianos e norte-americanos foram mantendo encontros com o objetivo de desbloquear este acordo comercial. No entanto, as negociações encontraram um obstáculo devido a divergências sobre as tarifas de importação, principalmente sobre os produtos agrícolas.
Os principais pontos de atrito são "linhas vermelhas" identificadas pela Índia, como a recusa em abrir o mercado a produtos agrícolas e lácteos dos Estados Unidos como forma de proteger milhões de agricultores indianos.
Como consequência, Trump anunciou a 31 de julho a imposição de tarifas de 25% sobre as importações indianas, alertando para tarifas adicionais de 25% para a compra de petróleo russo - que entraram em vigor esta quarta-feira.
(com agências)