Trump reescreve moedas. Dólar com rosto do magnata e recuo na diversidade histórica

Os sinais da divisão política nos Estados Unidos podem refletir-se já no próximo ano nos bolsos dos norte-americanos.

RTP /
Rachel Wisniewski - Reuters

Após ter terminado a emissão de novas moedas este ano, a Administração Trump prepara-se agora para lançar um conjunto de moedas com os seus rosto e nome estampados e reformular a própria narrativa americana.

A medida mais polémica é a emissão, em 2026, de uma moeda de um dólar com a imagem de Donald Trump, apesar do precedente histórico que evita homenagear presidentes em funções ou mesmo ex-presidentes vivos nas moedas americanas.

A United States Mint (Casa da Moeda norte-americana) divulgou esta semana os desenhos finais das moedas comemorativas do 250.º aniversário dos EUA, lançadas em breve.Entre três versões propostas, uma inclui a famosa fotografia de Trump em contexto policial de 2023. As imagens para o verso apresentam variações da águia americana.

Ao invés de homenagear a luta contra a escravidão ou o direito de voto feminino, os desenhos dão prioridade a uma visão mais homogénea da história americana: George Washington pela Guerra da Independência, Thomas Jefferson pela Declaração de Independência, James Madison pela Constituição, Abraham Lincoln pelo Discurso de Gettysburg e ainda uma referência aos peregrinos do Mayflower.

A decisão surge num contexto em que Trump tem vindo a criticar museus e entidades culturais por, na sua visão, retratarem o país de forma negativa. Em março deste ano, assinou uma ordem executiva que visa reverter exposições em propriedades do Estado americano, acusando-as de deturparem “o legado inigualável da nação na promoção da liberdade e dos direitos individuais”, numa iniciativa vista como parte de um esforço mais amplo para recuar em políticas de diversidade.

Kristie McNally, diretora da Casa da Moeda dos Estados Unidos, referiu que “os desenhos destas moedas históricas retratam a história da jornada da América rumo a uma união mais perfeita” e celebram os “ideais de liberdade que definem os Estados Unidos”. Sublinhou ainda que esperam “oferecer a cada americano a oportunidade de ter em mãos os 250 anos de história da nossa nação, conectando a América através das moedas”.Nem a Casa da Moeda nem o Departamento do Tesouro explicaram porque decidiram abandonar a ideia de cunhar moedas comemorativas em homenagem à abolição da escravatura, ao sufrágio feminino e ao movimento pelos direitos civis.


Entre as propostas rejeitadas estavam moedas com Frederick Douglass, ícone abolicionista, e uma representação simbólica de correntes a serem quebradas; uma moeda dedicada ao sufrágio feminino, com uma mulher a erguer um cartaz a pedir “Votes for Women”; e outra a homenagear Ruby Bridges, uma ativista norte-americana.

Com estas mudanças, Donald Trump parece determinado a deixar a sua marca muito para lá da Casa Branca, desde cunhar o seu próprio rosto até moldar a narrativa histórica que as moedas norte-americanas colocam nas mãos de milhões de cidadãos todos os dias.
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