"Esta é a sua casa", diz António Costa. "O Brasil está de volta", responde Lula da Silva

por RTP

FOTO: Ricardo Stuckert

Terminou sem perguntas a sessão de discursos do presidente do Brasil, Lula da Silva, e do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, no final da XIII Cimeira Luso-Brasileira que decorreu no Centro Cultural de Belém este sábado.

Uma data, 22 de abril, escolhida por Lula da Silva, para retomar as cimeiras entre os dois Estados, interrompidas durante o Governo de Jair Bolsonaro e a pandemia de Covid-19, por ter sido nesse dia que, em 1500, os primeiros portugueses chegaram ao Brasil.

Após a assinatura de 13 protocolos e acordos em áreas tão diferentes como a ciência, o audiovisual e a Justiça, António Costa tomou a palavra para garantir que "viramos uma página", prometendo que estes encontros passarão a ser anuais.

O primeiro-ministro português considerou ser uma "honra" receber Lula da Silva, agradecendo ao presidente brasileiro a primazia dada a Portugal na sua primeira visita à Europa desde que foi reeleito. "Esta é a sua casa" afiançou.

Lula da Silva respondeu que sai "muito feliz" da Cimeira aproveitando para frisar o papel central de Portugal nas relações brasileiras com a África lusófona, países a quem o Presidente demonstrou um profundo "agradecimento" por todo o legado.

"Como é possível não reconhecer a importância de Portugal", porta "de entrada" na Europa, questionou Lula da Silva, ao fazer um balanço negativo do legado do seu antecessor, Jair Bolsonaro.

O presidente brasileiro frisou que "estamos a reconstruir" o que foi "destruído" pelo Governo de Jair Bolsonaro, que comparou a um bando de "gafanhotos num milharal".

Agora, "o Brasil está de volta", para melhorar a relação e "partilhar as oportunidades de crescimento", prometeu o chefe de Estado brasileiro, cuja política futura com Portugal passa por "construir a política de compartilhamento, de sociedade, para que as empresas possam crescer juntos".

Só assim será possível "dar ao Brasil um lugar no mundo que ele já devia ter conquistado", acrescentou Lula da Silva. "Não é possível que em 500 anos o Brasil não tenha merecido uma chance de crescer", lamentou.

Anunciando diversos pontos do seu programa de governo incluindo investimento em obras iniciadas que ficaram paradas no anterior mandato, Lula da Silva sublinhou que "nós provamos que é possível fazer o nosso país crescer".
"Incentivar parcerias"
Antes, António Costa referira que "temos muita matéria para trabalhar em conjunto", sobretudo no mais importante, "as pessoas".

Os acordos assinados esta tarde estabelecem diversas vias-rápidas entre os dois países em matérias como o ensino, com a "concessão de equivalência do ensino básico e secundário", a Justiça, desde o "reconhecimento mútuo das cartas de condução" à proteção de testemunhas e ao combate à xenofobia e o racismo.

António Costa lembrou simbolicamente os lados que unem Brasil e Portugal e frisou o "estreitamento das relações económicas entre Portugal e o Brasil". "Entre Sines e Fortaleza que estão os cabos de amarração dos cabos de fibra ótica" que ligam o continente europeu e a América do Sul, referiu.

"Incentivar as parcerias", em domínios tão variados como a energia e da geologia ou o turismo, foi o grande objetivo. O primeiro-ministro português lembrou mesmo que "as empresas portuguesas têm investido fortemente no Brasil" e revelou iniciativas futuras.

"A EDP e a Galp vão investir nos próximos anos 5.7 mil milhões de euros em projetos energéticos no Brasil" anunciou António Costa, lembrando o papel da EDP na investigação do hidrogénio verde que decorre no Brasil e antevendo grandes vantagens para ambos os Estados nesse setor.

Outras áreas beneficiam igualmente de novos acordos, como a cultura, com a assinatura de um protocolo na área cinematográfica, e a ciência, "quer entre as agências espaciais, quer para os projetos de investigação em bio-medicina".

Reforçar a cooperação entre os países no âmbito da CPLP, da Mercosul e das Nações Unidas, sobretudo quanto à importância do idioma português no mundo, foram outras áreas focadas por António Costa.

O primeiro-ministro saudou "a nova vontade do Brasil de participação plena e efetiva no quadro da CPLP", dizendo que esta comunidade "ficará sempre incompleta se não tiver o Brasil".

"É um país fundamental, visto que é mesmo o país dominante da língua portuguesa à escala global", apontou.
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