UE cedeu após ameaças comerciais dos EUA mas ainda luta contra tarifas ao aço

O ano fica marcado por forte turbulência nas relações transatlânticas, com o regresso de Donald Trump à Casa Branca e a imposição de sobretaxas sobre produtos europeus, afetando os laços dos mais importantes parceiros comerciais e de investimento no mundo.

Lusa /

Quando chegou, o republicano impôs sobretaxas sobre produtos europeus, nomeadamente aço e alumínio, e ameaçou agravar as importações da UE com tarifas de até 30%, ameaças às quais a UE reagiu com contramedidas substanciais.

No início de março, a Comissão Europeia anunciou tarifas retaliatórias no valor de cerca de 26 mil milhões de euros em produtos americanos, justificando-as com os efeitos negativos das sobretaxas norte-americanas na economia europeia.

Na primavera, a escalada de tensões comerciais parecia anunciar uma guerra comercial entre duas das maiores economias mundiais, especialmente porque Donald Trump deu um ultimato, indicando que iria impor essas pesadas tarifas (de até 30%) se não houvesse acordo até 01 de agosto.

Foi neste contexto de urgência que, no final de julho, o Presidente norte-americano e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, conseguiram alcançar um entendimento estratégico, um acordo comercial para uma tarifa fixa de 15% sobre a maioria dos produtos europeus exportados para os Estados Unidos, abaixo da sobretaxa inicialmente divulgada.

Alguns setores ficaram, porém, de fora dessa taxa fixa, beneficiando de regimes especiais ou de isenções, como o das aeronaves, de componentes, de certas substâncias químicas, de semicondutores, de matérias-primas críticas e de produtos farmacêuticos.

Num acordo visto como prejudicial para UE, já que apenas o bloco comunitário cedeu, Bruxelas comprometeu-se também a comprar 750 mil milhões de dólares (650 mil milhões de euros) em energia norte-americana como gás natural, petróleo e nuclear para reduzir a dependência energética da Rússia e a investir mais 600 mil milhões de dólares (520 mil milhões de euros) nos Estados Unidos, num forte estímulo financeiro transatlântico.

A própria presidente da Comissão Europeia admitiu que este foi o acordo possível e enfatizou a estabilidade e previsibilidade às empresas em ambos os lados, mas tais palavras não evitaram as críticas pelo caráter assimétrico ou os receios sobre a efetiva aplicação norte-americana.

Dessa negociação saíram ainda promessas de cooperação para proteger cadeias de abastecimento europeias, especialmente em setores cruciais como o do aço e do alumínio, mas não se verificaram avanços desde então.

Certo é que Washington tem usado a sua oposição às leis digitais europeias como moeda de troca nas negociações comerciais com Bruxelas, vincando que só perante uma abordagem mais equilibrada do regulador digital comunitário baixa as pesadas tarifas sobre o aço e o alumínio importados da UE, numa forma de pressão comercial.

Os Estados Unidos consideram que as recentes leis europeias dos Serviços Digitais e dos Mercados Digitais criam barreiras não tarifárias que penalizam as suas `gigantes` tecnológicas.

Para proteger a indústria metalúrgica comunitária, a UE já aplicou limites europeus às importações no setor, que enfrenta uma severa crise.

Mas Bruxelas ainda espera demover os Estados Unidos.

É neste contexto de cessar-fogo na guerra tarifária, mas também de competição e de interdependência, que a UE e os Estados Unidos operam, esperando o bloco comunitário ainda poder contar com o seu antigo parceiro.

As relações transatlânticas estão, assim, num ponto de viragem: Washington e Bruxelas já não são os melhores amigos, mas pelo menos não se tornaram em grandes rivais.

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