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Um ano de guerra depois, o cabaz alimentar custa mais 45 euros

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
A polpa de tomate, o arroz carolino e o carapau foram os produtos cujos preços mais aumentaram Marton Monus - Reuters

Uma ida ao supermercado fica agora mais cara do que há um ano. Feitas as contas, os portugueses pagam atualmente mais 45 euros pela mesma lista de compras do que pagavam em fevereiro de 2022. Um relatório da DECO Proteste, publicado na passada sexta-feira, revela que apesar de a taxa de inflação ter vindo a baixar, o preço dos alimentos continua em rota ascendente. A DECO pede, por isso, maior transparência na formação dos preços.

Segundo o relatório da DECO Proteste, um cabaz de bens alimentares essenciais custava 183,63 euros a 23 de fevereiro de 2022, um dia antes de a Rússia lançar a ofensiva contra a Ucrânia. Um ano depois, o mesmo cabaz com 63 alimentos essenciais custa 228,66 euros, mais 24,5 por cento. Segundo a Deco, este é o valor mais elevado desde que a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor começou a monitorizar os preços do cabaz alimentar, a 5 de janeiro do ano passado.

O peixe e os laticínios foram as categorias onde se registou uma maior subida dos preços, com aumentos acima dos 50 por cento.
Fonte: DECO Proteste
Fonte: DECO Proteste

Um cabaz de peixe custa agora 76,59 euros, mais 16,28 euros do que há um ano. O carapau foi o peixe que mais encareceu, custando agora 5,70 euros/kg, mais 71 por cento do que há um ano. A pescada fresca e a posta de salmão estão também entre os peixes que mais aumentaram de preço.
Fonte: DECO Proteste

Nos laticínios, o aumento do preço do cabaz foi de 27,34 por cento, custando agora 14,61 euros. O leite UHT meio-gordo, o queijo flamengo fatiado e os ovos foram os produtos que mais subiram de preço nesta categoria.

Fonte: DECO Proteste

No geral, a polpa de tomate, o arroz carolino e o carapau foram os produtos cujos preços mais aumentaram (82, 72 e 71 por cento, respetivamente). No top dos que mais aumentaram encontram-se, ainda, a couve-coração, a alface frisada, a pescada fresca, o açúcar branco, o azeite virgem extra, a cebola e a cenoura.

Uma ida ao talho fica agora a 39,60 euros, 22,81 euros mais caro do que antes da guerra. Em sete das variedades de carne incluídas no cabaz alimentar da DECO Proteste, cinco registaram aumentos acima dos 20 por cento. O bife de peru, as costeletas de porco e o frango inteiro foram os produtos que mais aumentaram nesta categoria.

Fonte: DECO Proteste

Por sua vez, as frutas e legumes podem agora pesar 29,43 euros no valor total numa ida ao supermercado, mais 24,67 por cento do que há um ano. A couve-coração, a alface, a laranja e a banana foram os produtos cujos preços mais aumentaram no último ano.

Fonte: DECO Proteste

Já entre os congelados, o peso na carteira dos portugueses pode ser de 15,73 euros, mais 1,88 euros do que há um ano. Nesta categoria, os douradinhos foram o produto que mais viu o seu preço aumentar (mais 28,18 por cento face a 23 de fevereiro de 2022), custando agora 6,10 euros por embalagem. Os medalhões de pescada também então entre os congelados que mais aumentaram de preço, custando agora 6,58 euros, mais 18,67 por cento do que há um ano.

Fonte: DECO Proteste

O relatório da DECO mostra ainda que, durante o período em análise, as mercearias nunca estiveram tão caras como agora. Um cabaz de mercearias custa agora 52,70 euros, ou seja, mais 25,03 por cento (mais 10,55 euros) do que há um ano. A polpa de tomate, o arroz carolino e o açúcar estão entre os produtos que mais encareceram desde o início da guerra na Ucrânia.
Fonte: DECO Proteste
DECO pede maior transparência
O disparar de preços dos alimentos tem sido associado à guerra na Ucrânia, não só devido ao aumento dos custos de energia, mas também porque a Ucrânia e a Rússia são os principais exportadores de cereais para a União Europeia.

Com as exportações de cereais interrompidas, os preços dos alimentos atingiram níveis recorde em 2022, segundo revelou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em janeiro deste ano.

No entanto, segundo explicou Ana Guerreiro, porta-voz da DECO Proteste, não existem dados que permitam concluir que a subida de preços nos alimentos a que se tem assistido se deve exclusivamente à guerra na Ucrânia.

“Se eventualmente fosse exclusivamente uma justificação pela guerra da Ucrânia, então as mercearias, as massas e tudo aquilo que tivesse como base os cereais, seria o segmento de produtos com maior aumento nos preços. E não é o caso”, disse Ana Guerreiro à RTP.

Ana Guerreiro lembra que Portugal passou por um período de seca severa e depois de cheias. “Houve uma série de fatores que ainda impactaram mais o ciclo de produção dos produtos, mas ninguém sabe o quanto afetaram e de onde veio esse impacto”, afirmou.

A porta-voz da organização pede, por isso, maior transparência “para que os consumidores percebam de onde é que vem este aumento”.
O relatório faz ainda referência à taxa de inflação, que disparou em Portugal e na zona Euro desde o início da ofensiva na Ucrânia, atingindo um pico de 10,6 por cento em outubro de 2022.

Desde então, a taxa de inflação em Portugal tem vindo a diminuir, mas o preço dos alimentos não tem acompanhado essa tendência. Em janeiro deste ano, a inflação baixou para 8,4 por cento, mas os preços dos alimentos continuaram em rota ascendente nas primeiras semanas de 2023, segundo mostram os dados da DECO.

Por este motivo, a DECO insiste numa maior transparência na formação de preços “para que os consumidores entendam qual a justificação para o aumento dos preços de determinados produtos alimentares”.

“Se há uma justificação para isto, nós enquanto consumidores precisamos de saber”, disse Ana Guerreiro, porta-voz da DECO Proteste.

“Não vemos nem uma redução nem uma estabilização dos preços e, portanto, pelo menos tem que existir transparência por parte de todos os intervenientes desta cadeia de produção”, apelou.

A organização de defesa do consumidor afirma ainda que “o Governo deve adotar um papel mais ativo no acompanhamento da evolução dos preços da alimentação, seja em termos legislativos, seja através da ASAE, para exigir maior transparência quer à produção agroalimentar quer ao setor da distribuição”.
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