Varoufakis acusa credores de meia década de erros na Grécia

“Vamos ter de começar do zero com o plano de resgate, fazer tábua rasa” – a afirmação é de Yanis Varoufakis, numa resposta do ministro grego das Finanças ao Bild. A entrevista está esta segunda-feira no jornal alemão, escassas horas após novo falhanço das negociações entre Atenas e os credores internacionais. O FMI insiste nos cortes das pensões gregas, mas esta é uma das linhas vermelhas nascidas do voto maioritário nas últimas eleições gregas. O primeiro-ministro Alexis Tsipras alinha com Varoufakis e parece disposto a não ceder um milímetro, nem nas reformas nem no IVA, como pretende o Fundo Monetário Internacional: “Vamos esperar pacientemente que as instituições se convertam ao realismo”, avisa Tsipras.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Alkis Konstantinidis, Reuters

Olivier Blanchard

“Se as reformas não forem adotadas, a Grécia não poderá recuperar com um crescimento firme e o fardo da dívida tornar-se-á mais pesado", advogou, reconhecendo que os eleitores gregos já rejeitaram "certas reformas" ao votarem no Syriza.
Entretanto, o que conta para os mercados – a Europa acordou a tremer e a Ásia já tinha fechado sem certezas – é o falhanço num entendimento. E não foram necessários mais do que 45 minutos de reunião em Bruxelas entre os representantes dos gregos e o grupo dos credores para que se encerrassem as negociações sem resultados dignos de apresentar.

Apenas há a certeza de novo encontro na próxima quinta-feira. E dentro de três dias a reunião vai já contar já com a presença de Christine Lagarde, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional.
O FMI deverá colocar de novo sobre a mesa uma exigência martela no abandono dos gregos daquilo que classificam de linhas vermelhas – para o caso, novo corte nas pensões de velhice e uma mexida no IVA, compromissos que o Syriza, partido maioritário do Governo de coligação em Atenas, assinou com os eleitores.

O que não impede que o recado tenha sido deixado ontem, novamente, pelo economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard: “Se as reformas não forem adotadas, a Grécia não poderá recuperar com um crescimento firme e o fardo da dívida tornar-se-á mais pesado”.Atenas tem até 30 de junho para reembolsar 1,6 mil milhões de euros ao FMI.

Credores consideram que as propostas gregas continuam incompletas e exigem que Atenas corte mais dois mil milhões de euros anuais com renovada austeridade, o que leva os gregos a considerar as exigências dos credores irracionais.


Mas o braço-de-ferro entre Atenas e os credores não poderá estender-se por muito mais tempo. No dia 30 deste mês de junho termina o prazo para o reembolso de uma parte da dívida que o Executivo Tsipras deve saldar com o FMI.

São 1,6 mil milhões de euros que não existem nos cofres helénicos, de acordo com os próprios gregos, que esperam pacientemente – nas palavras do PM Alexis Tsipras. Puxando da cartada do “irrealismo”, o chefe do Governo lamentava que fossem os “motivos políticos” a base da “insistência dos credores em novos cortes nas pensões depois de cinco anos de saques”.

No entanto, o que conta - até que seja firmado um acordo com FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu - é que Atenas não poderá receber os 7,2 mil milhões de euros da segunda tranche deste último resgate. Mas, com o incumprimento à porta, as dores de cabeça não são mal exclusivo de Atenas.
Até o Presidente português, Aníbal Cavaco Silva, concedia esta manhã que o cenário de falhanço não será o melhor para a Europa.
“Vamos ter de começar do zero, fazer tábua rasa”
Na entrevista publicada esta segunda-feira pelo Bild, Yanis Varoufakis foi mais contundente do que o seu chefe de Governo: a Europa deve admitir que o que fez até agora na Grécia “foi um erro”. Varoufakis ao Bild
“No verão vamos ter de pagar 7.000 milhões ao BCE mas não temos esse dinheiro. Devemos, então, recorrer outra vez aos contribuintes alemães para que nos emprestem dinheiro e possamos pagar ao BCE? Isso não tem sentido. É melhor adiar o pagamento.”


“Somos todos humanos e é difícil admitir erros. Creio que vai ser preciso tempo para que as instituições europeias, Berlim e Bruxelas reconheçam que o programa que apoiaram durante cinco anos foi um erro mas não há outro caminho”, sublinhou.

Após deixar estas críticas, o ministro das Finanças que gera ódios e invejas na Europa liberal recolocou o discurso numa tese que já não é nova, pelo menos na sua boca: além da necessidade de um perdão, é fundamental que a Grécia possa vincular o pagamento da dívida ao crescimento económico.

“Em primeiro lugar precisamos de vincular o pagamento da dívida ao crescimento económico. Em segundo lugar precisamos de um perdão, só assim podemos garantir o pagamento da maior parte da dívida”, avisou.

São entretanto muitas as semanas que Atenas e os credores já queimaram em discussõe infrutíferas sobre as mediadas económicas a implementar na Grécia, um traçado que se desvia totalmente daquilo que a direção grega parece ter na cabeça para solucionar a crise no país.
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