Vendas de divisas entre bancos moçambicanos afundou 67% em 2024

As vendas de divisas entre os bancos moçambicanos afundaram 67% em 2024, face a 2023, para 44,46 milhões de dólares (37,9 milhões de euros), mas estes conseguiram comprar mais moeda estrangeira aos clientes do que vendê-la.

Lusa /
Reuters

De acordo com dados compilados pela Lusa a partir de um relatório anual do Banco de Moçambique, recentemente aprovado, os bancos tinham vendido entre si, em 2023, divisas no valor de 135,1 milhões de dólares (115,2 milhões de euros).

Desde o ano passado que os empresários de vários setores se queixam de dificuldades no acesso a moeda estrangeira através da banca, situação que permanece em 2025 e que alegam dificultar as importações.

Em 2024, no mesmo canal interbancário, o Banco de Moçambique refere que não vendeu divisas, quando em 2023 procedeu à venda de 481,4 milhões de dólares (410,7 milhões de euros), incluindo todas as moedas estrangeiras transacionadas, convertidas para dólares norte-americanos.

"O Banco de Moçambique manteve a neutralidade no Mercado Cambial Interbancário num cenário de estabilidade cambial", lê-se no documento.

Por outro, o documento aponta que em 2024 "as compras dos bancos comerciais aos seus clientes superaram as vendas em 880,16 milhões de dólares [750,8 milhões de euros]", e que quando comparadas com o observado em 2023, "as compras e as vendas reduziram-se em 4% e 17%, respetivamente".

"Assim, em 2024, o volume total de negócio neste segmento situou-se em cerca de 15,89 milhões de dólares [13,6 milhões de euros], uma redução de 6% em relação ao ano anterior", conclui.

O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, reconheceu em 30 de maio último que o país assistiu a uma "dolarização" da economia no final do ano passado, na sequência da crise pós-eleitoral, nomeadamente na tentativa de retirada de divisas dos bancos.

"Hoje, olhando historicamente - no momento não estava claro que era isso -, certamente janeiro foi o momento mais difícil (...) direi a partir do final do ano, dezembro, janeiro. Depois as coisas tranquilizaram", disse o governador, ao responder aos jornalistas no final da reunião do Comité de Política Monetária (CPMO), realizada hoje em Maputo.

Zandamela foi questionando, nomeadamente, sobre a garantia que avançou no final de março, de suficiente liquidez no mercado de divisas, quando os empresários se queixavam da falta de acesso a moeda estrangeira para fazer importações, tendo o banco central, no mês seguinte, adotado normativos para facilitar o processo.

Segundo o governador, a posição resultou da avaliação feita até então, tendo-se constatado, depois, a tentativa no mercado de "blindar-se com a dolarização de ativos financeiros e não financeiros".

"Não é incomum isto. É que quando é uma situação de crise - vamos falar abertamente -, é um problema também de confiança. Quando ela abala a confiança, vocês viram as viagens no exterior naquele período, viram muita gente sair do país. Uns perderam confiança no país, uns queriam vender tudo o que tinham e sair: `Será que o nosso país tem futuro ou não?` Essa pressão não surpreende, isso aconteceu. Mas ninguém disse o que estava fazendo, e não iam dizer", afirmou.

"Essa pressão [acesso a divisas] houve sim, e foi muito forte. E a banca exerceu um papel (...) os bancos conhecem os seus clientes", garantiu.

Moçambique viveu o período pós-eleitoral mais complicado depois das eleições gerais de 09 de outubro de 2024, com manifestações, paralisações, saques, destruição de empresas e instituições públicas como forma de contestação dos resultados. Os confrontos com a polícia provocaram ainda cerca de 400 mortos, segundo organizações no terreno.

A violência cessou após o encontro em 23 de março entre o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais e convocou os protestos, e o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, empossado em 15 de janeiro, durante o qual ambos concordaram com o fim da violência no país.

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