Voltar a sonhar com os comboios

Na Estação do Rossio, às 18h30, apresenta-se esta quarta-feira o livro "A ferrovia em Portugal - Passado, presente e futuro". Um ensaio que defende a ferrovia como alavanca do desenvolvimento económico nacional. O autor é Francisco Furtado, a publicação é da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O primeiro-ministro afirmou a semana passada, durante a reabertura da oficina da CP em Guifões (Matosinhos), ter o sonho de ver Portugal entrar para o "clube dos produtores de comboios". Mais um sinal da vontade do atual Governo dar novo impulso a este sector. Os próximos três anos são decisivos.

Na altura em que o Plano de Investimentos Ferrovia 2020 anuncia novos concursos e novas obras, Francisco Furtado, analista do Fórum Internacional do Transporte (FIT/ITF, com sede em Paris) apresenta um ensaio em que expõe prioridades e sugere bitolas para se maximizar o potencial da ferrovia neste século.
A 20 de Janeiro a Infraestruturas de Portugal (IP) anunciou o lançamento do novo concurso para a modernização do troço Pampilhosa/Santa Comba Dão, na linha da Beira Alta; anunciou também a obra de modernização do troço da Linha do Leste, entre Elvas e Caia (na fronteira com Espanha) em fase de conclusão.


O autor acredita que o actual Governo vai ficar marcado pela aposta no sector ferroviário: "Há aqui uma série de sinais. Há muitas décadas havia uma desproporção de investimentos e de esforços na rodovia, que agora está a ser reequilibrado com as obras já no terreno e com esta série de anúncios".
Devagar, a reforma avança
Em Novembro, a IP (organismo que aplica o Ferrovia 2020) informava que, passados quatro anos, 5% das obras do Plano de Investimento Ferrovia 2020 estava concluído, 37% estava em desenvolvimento e 58% ainda estava por lançar.

O investimento total é de 2000 milhões de euros, metade dos qual provém de fundos comunitários. No Plano Nacional de Investimentos para 2030, ainda a ser estruturado, incluem-se vários projectos ferroviários que, face ao actual quadro comunitário, deveriam estar concluídos até 31 de dezembro de 2023.

No entanto, Francisco Furtado destaca os pontos positivos: "Sob o pano de fundo das alterações climáticas, do aumento de eficiência energética, do Green Deal lançado pela Comissão Europeia, do processo de reconversão da indústria europeia para se libertar da dependência dos combustíveis fósseis, o caminho de ferro vai ter um papel fundamental".

Antena 1

Para Portugal, a ferrovia "é uma questão de equilíbrio da balança comercial, mas também há uma pressão da procura. O ano de 2019 será o ano em que mais passageiros foram transportados na ferrovia (portuguesa) no século XXI", refere o analista do Fórum Internacional do Transporte.
Investimento robusto, mas lento
O Orçamento do Estado para este ano prevê um investimento de cerca de 590 milhões de euros no sector dos transportes. Aqui cabem obras na rede ferroviária nacional e os planos de expansão dos metros de Lisboa, Porto e do Metro do Mondego. Prevê-se também a renovação das frotas e a aquisição de 22 automotoras para a CP.

É o FERROVIA 2020 sobre carris... Mas lento. Francisco Furtado acredita, no entanto, que este pode ser o "governo da ferrovia", em contraponto com a "década da rodovia" do cavaquismo: "De facto, Portugal é o único país da União Europeia em que existem mais quilómetros de auto-estrada do que linha férrea. Mas também houve investimentos na modernização e reconversão da ferrovia, ao longo dos anos noventa e início do século XXI; basta lembrar a Ponte de São João no Porto, o comboio na Ponte 25 de Abril, os Alfas foram introduzidos nesta altura tal como o terminal da Bobadela, fundamental para as mercadorias. E houve um momento de hesitação, em torno do projecto da alta velocidade".



Este continua a ser um dos desafios mais importantes do país, refere Francisco Furtado, "é preciso aumentar a capacidade na linha do Norte, em que circulam mais de setecentos comboios por dia de todos os tipos: mercadorias, Alfas, suburbanos, regionais, etc."

O analista português do FIT/ITF considera necessário "diminuir os tempos de viagem entre Lisboa e o Porto e aumentar a frequência dos comboios. A questão é saber se é necessário fazer uma nova linha dedicada unicamente à alta velocidade. Eu julgo que essa não é a melhor opção".

Para Francisco Furtado, a Linha do Norte é a espinha dorsal de toda a actividade ferroviária do país; defende por isso uma modernização, sugere a construção de variantes e a eventual quadruplicação de alguns dos troços. No livro que hoje apresenta, escreve que há uma janela de oportunidade na ferrovia em Portugal que pode garantir a sustentabilidade da actividade ferroviária.

Uma convicção, mais de século e meio depois da primeira viagem de comboio no país: em 1856 inaugurou-se a ligação Lisboa/Carregado.