Europeias reconfiguram paisagem política portuguesa

por RTP
Num braço-de-ferro mantido com a CDU, ao fim da noite o Bloco de Esquerda garantiu a eleição do terceiro eurodeputado Mário Cruz, Lusa

A noite das Europeias, marcada por um CDS-PP que continua a mostrar-se capaz de sobreviver às sondagens, revelou igualmente uma alteração no pódio eleitoral português, com o BE a assumir-se como a terceira força política, apesar do crescimento da CDU. Um último dado dá Portugal como campeão das abstenções, com uma taxa de participação a rondar os 37%, abaixo dos 43% da média comunitária.

Os resultados desta noite eleitoral traduziram uma vitória substantiva do PSD que vem dar um sinal de reprovação óbvia do eleitorado relativamente à governação socialista: o PSD bate o PS com 31,71 por cento dos votos, os socialistas ficam-se pelos 26,57 por cento.

Mas a noite não acaba aqui. O CDS-PP, um partido habituado ao massacre das sondagens, termina a jornada eleitoral a garantir a manutenção de dois eurodeputados em Estrasburgo e confiante o suficiente para puxar de uma moção de censura contra o Governo de José Sócrates.

"A nossa grande sondagem foi nas urnas", gritava aos apoiantes no Caldas o cabeça-de-lista Nuno Melo, já depois de as televisões terem garantido a eleição de Diogo Feio, o número dois da lista às Europeias.

Ao final da noite, entrados no período pós-discurso de vitória, foi a vez de o líder dos centristas anunciar a apresentação no Parlamento de uma moção de censura ao Governo PS.

"O país fez uma moção de censura ao Governo Sócrates. O CDS dará voz, apresentando uma moção de censura na Assembleia da República, como é justo e é merecido", anunciou Paulo Portas.

BE assume-se como terceira força política com três eurodeputados

Miguel Portas, cabeça-de-lista do BE, considerou o resultado do Bloco "um extraordinário resultado", com a duplicação do número de deputados ao Parlamento Europeu, numa declaração produzida quando não era ainda conhecida a mais do que provável eleição de um terceiro deputado, o que garantirá a triplicação da representação bloquista em Estrasburgo.

"O BE obteve, de facto, um resultado extraordinário, estamos seguramente perante um grande resultado, temos claramente a possibilidade de chegar aos dois dígitos", sustentou Miguel Portas perante os apoiantes que enchiam a sala do Bloco no Fórum Lisboa.

O eurodeputado reeleito sublinhou ainda o que considerou ser a conclusão paralela a tirar desta noite: "A derrota política enorme das políticas seguidas pelo PS".

Com uma mensagem a roçar a ironia, Miguel Portas deixou um agradecimento aos "eleitores socialistas" que votaram BE.

Atribuindo a derrota do PS ao "enorme demérito do Governo", o dirigente bloquista sustentou que esse facto conduziu "milhares de socialistas a mudar de voto, particularmente para o BE".

Sublinhando que "a grande vitória destas eleições está à esquerda", Portas recusou-se a "avançar" em cálculos para as Legislativas com a explicação de que "cada eleição é uma eleição".

Jerónimo de Sousa aponta crescimento de 20 por cento

Ao início da noite, a CDU considerava que a vitória do PSD é "um cartão vermelho" para as "políticas de direita" do Executivo de José Sócrates. O secretário-geral do PCP destacou o crescimento de 20 por cento nos resultados obtidos pela CDU, o que é visto por Jerónimo como o sinal de "uma força a crescer e indispensável ao país e à solução dos problemas nacionais".

"No quadro da redução de 24 para 22 deputados nacionais", Jerónimo de Sousa sublinhou esse aumento da "expressão eleitoral e do número de votos" da CDU, desvalorizando os resultados obtidos pelo BE.

Seria uma contradição "uma CDU que cresce, que aumenta o número de votos, que aumenta o número de percentagem, que fez uma campanha notável, ter de se sentir menos feliz só porque outra força concorrente conseguiu, por enquanto, mais votos".

Abstenção portuguesa bate média da Europa

Nestas Europeias, Portugal bate a Europa em quase toda a linha em termos de participação cívica. Com a Direcção Geral da Administração Interna a fixar a taxa de participação em cerca de 37 por cento, a afluência nacional mostra-se muito inferior à média comunitária, a rondar os 43 por cento.

De acordo com os serviços do Parlamento Europeu, Portugal regista a nona taxa de participação mais baixa entre os 27 Estados-membros e a segunda pior desde a adesão à UE.

A taxa de abstenção nestas Europeias (provisória) situou-se nos 62,95 por cento, ligeiramente acima dos 61,2 por cento de 2004. Fica ainda ligeiramente aquém dos números verificados em 1994, ano em que não foram às urnas 64,4 por cento dos eleitores portugueses.
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