PS nota "recuo" do Governo na revisão laboral. Chega rejeita "retrocessos" na proteção dos trabalhadores

Depois de Governo e parceiros sociais se terem sentado à mesa para o pontapé de saída nas negociações da proposta de revisão laboral apresentada pelo Governo, o PS considera que as declarações da ministra do Trabalho no final da reunião na Concertação Social revelam um "recuo" face ao anteprojeto apresentado pelo Executivo.

João Alexandre - Antena 1 /

Fotografias de Gonçalo Costa Martins - Antena 1

"É um recuo do próprio Governo, uma vez que apresentou esta alegada reforma - com dezenas de alterações ao Código de Trabalho - na última semana de julho, portanto, numa altura em que é muito difícil haver um debate consistente sobre estas matérias. Aliás, para surpresa dos parceiros sociais, porque o Governo diz que os ouviu durante meses, mas não é isso que os parceiros têm dito publicamente", afirma, na Antena 1, o deputado socialista Miguel Cabrita.

Em declarações no programa Entre Políticos, o ex-secretário de Estado do Governo de António Costa defendeu que as alterações à lei laboral não devem ser "misturadas" com as negociações do Orçamento do Estado, até porque, aponta o socialista, o processo é "complexo".

"O Governo terá percebido que as coisas serão um pouco mais complexas do que esperava e o PS aconselhou vivamente a que não houvesse nenhum tipo de mistura entre os dois processos. Uma das razões é matérias com esta complexidade - e com gravidade em vários dos aspetos que são propostos - não se compadecerem com pressas e com 'timings' apressados, muito menos quando está em causa um processo de concertação", insistiu o deputado.

No mesmo sentido, Miguel Cabrita refere que é ao Governo da AD que compete garantir o "equilíbrio" da proposta e defende que o momento não justifica uma revolução nas leis do trabalho: "Temos o nosso mercado de trabalho com o emprego em máximos, com o desemprego em mínimos e quando todas estas opções têm vindo a ser muito questionadas. E bem".
Quanto ao Chega, espera um "consenso alargado" e que a negociação entre o Governo e os parceiros sociais não represente um "retrocesso", salientou, na Antena 1, o deputado Rui Afonso, que assinala que, para o partido, há uma "linha vermelha" na negociação: "Relativamente à garantia das proteções sociais dos trabalhadores". 

"Temos três pontos que são importantíssimos para nós: a redução da duração da licença de amamentação, o luto gestacional e a lei da greve. São três pontos que, para nós, são essenciais", assinala o deputado, que, sobre as alterações que o Governo pretende promover nas regras do luto gestacional, insiste: "É uma dor invisível, mas é uma dor que afeta milhares e milhares de famílias em Portugal. É uma dor que tem de ser respeitada e que não pode ser menorizada face a uma perda". 

Rui Afonso afirma ainda que, para o Chega, é prioritário criar uma lei laboral "para o futuro e não baseada no passado", mas assume que há matérias intocáveis: "A licença de amamentação e o luto gestacional. São matérias intocáveis e acredito que o Governo irá ser sensível e irá deixar cair realmente estas pretensões de reduzir, quer a questão do prazo de duração da licença de amamentação, quer a questão da revogação da falta por luto gestacional".
O deputado do Chega garante ainda que, mais importante do que o parceiro preferencial de negociação por parte do Governo, o importante é avançar nas alterações para "melhorar" a lei da qual depende a relação entre trabalhador e empregador.

"É irrelevante, seja com o Partido Socialista, com o Bloco de Esquerda, com a Iniciativa Liberal ou com o PAN. O que nós queremos é que saia daqui uma lei melhor do que aquela que existia e, portanto, para nós essa é a prioridade. Não estamos aqui com questões de linhas vermelhas relativamente a partidos. O que nós temos que pensar é numa reforma da lei laboral que reforce, no fundo, quer patrões, quer trabalhadores. Isso para nós é o mais importante", diz.

Trabalhadores Social Democratas pedem respeito de Governo e oposição por resultados da Concertação Social

Em declarações no programa Entre Políticos, Pedro Roque, deputado e secretário-geral dos TSD - Trabalhadores Social Democratas, considerou que não devem criar-se "ilusões" de que o diálogo social vai ter resultados "de um momento para o outro", mas sinaliza que o Governo não está a apressar a negociação com os parceiros sociais.

"Neste momento, estamos no 'timing' dos parceiros, que eu considero o mais importante, porque quaisquer alterações ao Código de Trabalho têm de, necessariamente, refletir um equilíbrio entre os atores em presença, ou seja, o tal triângulo que compreende Governo, empregadores e o lado sindical", diz o ex-secretário de Estado do PSD, que acredita que as negociações vão chegar a bom porto, mesmo que uma das centrais sindicais já tenha deixado claro que não há margem para negociações: "Há coisas que são uma constante na Concertação Social, independentemente do Governo que está de turno. Uma delas é a posição da CGTP, que é sempre uma posição de recusa inicial e de recusa final".

Pedro Roque refere, contudo, que "não interessa como as coisas começam, mas como terminarão",  independentemente da evolução da posição dos sindicatos: "Às vezes parecem irredutíveis e, no final, o resultado é um resultado importante e equilibrado", sugere o social-democrata, que acredita que, no parlamento, o PSD vai respeitar os resultados das negociações e a "posição histórica" do partido que, aponta o deputado, passa por "respeitar" os a Concertação Social.

O deputado apela ainda que os partidos dos quais "dependerá" a aprovação das alterações ao Código de Trabalho estejam "à altura" das responsabilidades, e esclarece: "Os partidos que são aqui relevantes para esse processo. Ou seja, o Partido Socialista e o Chega, ou o Partido Socialista ou o Chega".
"No final, eventualmente, um dos partidos poderá ou não rever-se mais na proposta de lei do que outro. Mas, eu acho que, se resultar de um entendimento na Concertação Social, significa que se gerou um equilíbrio nas posições de partida dos parceiros e que esse equilíbrio é, naturalmente, virtuoso", acrescenta Pedro Roque, que se mantém otimista relativamente a um desfecho que possa satisfazer Governo, sindicatos e patrões.

IL recusa ideia de "papões-patrões" e pede mudanças de fundo

Pela Iniciativa Liberal, Mário Amorim Lopes aguarda que o anteprojeto de revisão da lei laboral apresentado pelo Governo venha a ter resultados visíveis e defende o conceito de "flexisegurança" como o caminho a seguir no país para melhorar as relações entre trabalhadores e empresas.

"As pessoas devem ser amparadas, mas devem ser amparadas pelo Estado. E isso não pode ser um bloqueio ao funcionamento das empresas. O que nós propomos não é muito diferente do que propõem outros países europeus, nomeadamente nórdicos - que são sempre uma referência nas relações laborais e onde, aliás, o nível de sindicalização é muito elevado. Por exemplo, a Dinamarca, onde as empresas têm flexibilidade para tomarem as decisões em função daquilo que entendem que é importante para o negócio funcionar e para não falir", detalha.

Questionado sobre as declarações do líder da CIP, Armindo Monteiro, que, no final da reunião da Concertação Social, deu conta de que a confederação patronal está disposta a retirar qualquer medida que seja considerada um "ponto de ruptura", Mário Amorim Lopes insiste que o Governo e os deputados devem aproveitar o momento para alterar uma lei que, no entender dos liberais, está ultrapassada.

"A CIP tem de gerir equilíbrios e, eventualmente, não tem a liberdade para poder dizer aquilo que entende. Nós temos, eu tenho e é isso que eu estou a fazer", afirma o deputado, que aponta: "Se for fácil celebrar um contrato de trabalho e dissolver um contrato de trabalho, ninguém tem de andar a recorrer a subterfúgios e a recibos verdes - e a esquemas para evitar colocar os trabalhadores na empresa", e acrescenta: "Aquela ideia dos papões-patrões que têm prazer e, portanto, são sádicos no despedimento, enfim, isso alimenta alguns partidos de esquerda, mas não é realidade".
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